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    Crítica

    Trio constrói sonoridade hipnótica em repertório romântico

    SIDNEY MOLINA
    CRÍTICO DA FOLHA

    31/03/2017 02h16

    Divulgação
    Integrantes do Trio Wanderer, músicos franceses que abrem a Temporada 2017 da Cultura Artística ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Integrantes do Trio Wanderer

    O arquiduque Rodolfo –que inspirou o "Trio Para Piano, Violino e Violoncelo" op.97 de Beethoven (1770-1827) – era meio-irmão do imperador Francisco 1º da Áustria. Ele foi admirador, aluno e mecenas do compositor alemão, a quem disponibilizava sua biblioteca musical de quase 6.000 obras.

    Interpretada pelo Trio Wanderer (criado em 1987 na França por músicos formados no Conservatório de Paris), a composição abriu a temporada 2017 da Cultura Artística terça (28) na Sala São Paulo.

    Longevidade é um ingrediente essencial para o aprofundamento do trabalho de um grupo de câmara. Vincent Coq (piano), Jean-Marc Phillips-Varjabédian (violino) e Raphaël Pidoux (cello) mal se olham no palco: sem nenhuma tensão, tocam inebriados pela projeção sonora que eles mesmos produzem.

    A partir desse estado de escuta, do foco total no diálogo não verbal com o(s) outro(s), é que emergem a perfeição do longo trecho em "pizzicatos" no primeiro movimento, a qualificação do humor no "scherzo", ou as mudanças de cores e articulações no tema com variações.

    Com o "Arquiduque", Beethoven também iniciava um novo período criativo –o derradeiro de sua carreira–, e para isso utilizou a mesma formação instrumental de suas primeiras obras publicadas, a saber, os três trios com piano op.1.

    A primeira parte do programa ainda teve o "Noturno" de Schubert (1797-1828), também original para trio. Schubert complementa Beethoven: a peça trouxe estabilidade tonal e leveza, um pouco de entretenimento à grandiosidade da nobreza vienense.

    Daí a mudança sonora foi radical: assim que os músicos atacaram o "Trio" op.50 de Tchaikovsky (1840-1893) –no início da segunda parte do concerto–, já era uma outra qualidade de vibrato; a gama de dinâmicas expandiu-se, surgiram contrastes radicais e mais nuances de articulações.

    O Wanderer não ganha o público pela energia ou entusiasmo contagiante, mas por estender o seu som hipnótico para além do palco. Há quem possa achar excessivo o uso do pedal no piano, mas isso também interfere positivamente na eficácia camerística geral.

    Os músicos do trio não ostentam o próprio virtuosismo que, por isso, até poderia passar despercebido ao longo dos 45 minutos de grandes exigências técnicas da obra do compositor russo.

    É o todo que importa: há no Trio Wanderer uma confiança musical que só os melhores grupos de câmara têm.

    TRIO WANDERER

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