Às 16h do sábado passado (1º) chegou ao fim o que a enfermeira Solange de Alberto, 20, classifica de "uma fase importante da vida".
O final desse período foi um pouco abrupto, quando a organização do show paulistano do cantor Justin Bieber, 23, na turnê do álbum "Purpose" abriu os portões do Allianz Parque, estádio do Palmeiras na zona oeste de São Paulo. Solange de Alberto saiu correndo em desespero.
Deixou para trás os dois meses em que esteve acampada na frente do estádio, guardando um lugar na fila.
"Teve gente que passou mal, desmaiou. Não sei se foi sol, emoção ou se não tinham comido de manhã. Ainda bem que a gente conseguiu guardar lugar pra elas", diz a enfermeira, já a poucos metros de onde o cantor canadense apareceria às 20h30.
Pertences ficaram para trás, no caso de algumas tocaieiras. "Perdi um sapato. Mas pelo Justin eu perderia os dois", diz Luara Ribeiro, 19, depois de voltar do banheiro manquitolando. Ela decidiu não tirar do pé a sandália plataforma esquerda.
O suplício foi tratado como "fichinha" por ela, que tomou banho nas pias de um shopping ali ao lado nas semanas em que esteve acampada de plantão pelo astro pop.
Horas antes do show, começou a rodar na internet o boato que o grupo do acampamento havia perdido sua prerrogativa de entrar primeiro porque a organização do evento teria mudado o portão de entrada da fila premium, como ocorreu no show carioca.
O rumor revoltou parte dos "beliebers", como se autodenominam os fãs do astro, numa mescla de seu nome com a palavra inglesa "believer", crente, em tradução livre.
"Mas não foi isso que aconteceu. Só dividiram o pessoal da cadeira e o da pista premium", explica a estudante Kathleen Lopes, 18, outra das cerca de 150 pessoas que formavam a comunidade instalada em frente ao estádio.
Ela mesma não entraria no primeiro dia, já que tinha comprado somente um ingresso para a pista premium verde (por R$ 750) do segundo dia de apresentação.
Lopes foi uma das líderes na hora de levantar o acampamento da porta do estádio Allianz Parque e carregar as tendas, armadas mesmo, para o outro lado da avenida Francisco Matarazzo, onde esperariam por mais 24 horas para ver o segundo show do artista canadense.
OPORTUNIDADE
Mas veio a noite e, com ela, a deflação. Cambistas que esperavam revender pelo dobro do valor os ingressos (de R$ 125 a R$ 750) acabaram derrubando seus preços por falta de procura.
Por esse motivo a estudante Aline Sousa, 17, conseguiu ver também o primeiro show. Pagou R$ 100 num ingresso de pista, cujo preço original era R$ 125, quando Bieber tentava entoar a segunda música em meio a um paredão de berros. "Valeu cada segundo e cada centavo."
O relativo insucesso nas vendas para o espetáculo podia ser visto também no número de vagas disponíveis no estacionamento do estádio.
No sábado, a uma hora do show, havia 1.112 espaços livres para carros. Uma lanchonete que fica no térreo da arena havia armado uma operação de guerra para atender uma multidão. Retirou as mesas e deixou o salão vazio para que se formassem enormes filas, que nunca vieram.
A produção do evento não divulgou o número de entradas vendidas das 44 mil disponíveis até a noite de sábado. Posteriormente, informou que os dois shows foram esgotados com o total de 44.400 bilhetes vendidos.
Às 16h do domingo (2), era chegada a hora das últimas acampadas clamarem pelo lugar que lhes cabia.
A técnica de celulares Kelli Cristina, 38, sumarizou o fim da sua saga na legenda que deu a uma foto postada em rede social, em que aparecia abraçada com a irmã mais nova e colegas do apartamento na boca do palco: "A grade é nossa! Nunca corri tanto na minha vida. Pode chegar, Justin Bieber".