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    Série 'Psi' volta com protagonista fragilizado e histórias mais longas

    FELIPE GIACOMELLI
    DE SÃO PAULO

    09/04/2017 02h10

    Carlo Antonini, protagonista da série "Psi", cuja terceira temporada estreia neste domingo (9) na HBO, é um herói um pouco diferente. "Acho curioso chamá-lo de super-herói. O número de casos clínicos dele que são um sucesso é baixo. E ele só toma fora das mulheres", diz o criador e roteirista da série Contardo Calligaris, psicanalista e colunista da Folha.

    Nesta nova temporada, as fraquezas de Antonini ficarão mais visíveis. Logo no primeiro episódio, ele enfrentará uma suspeita de câncer no pulmão. Também será confrontado pelos seus pacientes e não saberá o que dizer.

    "Eu, por exemplo, nunca vi o Carlo frágil dessa maneira. Nunca o vi se emocionando com um paciente e não sabendo o que responder. E isso é muito legal, fragiliza o personagem e o humaniza", afirma o ator Emílio de Mello, que interpreta Antonini. "A possibilidade da morte faz as coisas mudarem de perspectiva para ele. E não há quem não fique frágil diante da chance de morrer", diz o ator.

    HBO/Divulgação
    Padre Miguel (inerpretado por Marcello Airoldi), Carlo ( Emílio de Mello) e Clara (Liliana de Castro), da série "Psi"
    Padre Miguel (Marcello Airoldi), Carlo ( Emílio de Mello) e Clara (Liliana de Castro), da série "Psi"

    Exibir um protagonista sem a aura de herói, que nem sempre consegue ser o "resolvedor de problemas", é consequência da maior mudança de "Psi" neste terceiro ano: cada caso vai durar dois capítulos —serão dez episódios ao todo.

    Segundo a HBO, a alteração foi decidida ainda no começo das conversas para a nova temporada, como experimentação. "Se a gente fizesse uma terceira temporada parecida com a primeira, não valeria a pena", diz Mello.

    O impacto na narrativa é visível: há mais ação, e o clímax não é nem sutil nem chega de supetão. Há mais tempo para entender a angústia do paciente e de que forma Antonini vai (ou não) conseguir ajudá-lo. Antes, eram cerca de 45 minutos para entender o que o paciente estava passando e ver como o protagonista resolveria a situação.

    Na nova leva, em um dos episódios, Antonini atende uma jovem de 18 anos que, diante de uma doença incurável, decide tirar a própria vida. É um bom exemplo de como histórias mais longas ajudam a série: dá tempo de ver a paciente dividida entre a vontade de viver e ter novas experiências e o ímpeto de colocar um ponto final em seu sofrimento.

    Ao mesmo tempo, Antonini também tem seu dilema. Quer impedir que ela morra, mesmo que essa não seja a vontade da própria paciente.

    "A personagem é construída em cima de uma paciente minha que morreu. Talvez esse episódio tenha vindo para compensar minha falta de capacidade de ajudá-la nessa busca de decidir quando morrer", afirma Calligaris.

    Se nem sempre o psicanalista, na realidade ou na ficção, consegue sucesso com o paciente, de onde surgiu a imagem de que ele é um herói?

    Ernesto Rodrigues/Folhapress
    São Paulo - SP - Brasil -29/09/2015 :CONTARDO cALLIGARIS : DEBATE COM CONTARDO CALLIGARIS SOBRE A ESTREIA DA SEGUNDA TEMPORADA DA SÉRIE "PSI". ( Foto Ernesto Rodrigues/Folhapress.ILUSTRADA). cod.0628.
    O psicanalista Contardo Calligaris, criador e roteirista da série

    "Super-herói é uma expressão um pouco idiota. Mas a transferência analítica é isso, imaginar que o terapeuta saiba tudo sobre você, até mesmo antes de você começar a falar", diz Calligaris. "Isso, no mínimo, é um dom de onisciência, que de fato não tenho."

    "Quando você consulta um médico, pelo menos acredita que ele vai curá-lo. Se você não achasse isso, por que iria ao consultório dele?"

    MAIS CABEÇA

    Se na primeira temporada o foco eram as aventuras de Antonini, que enfrentou uma briga na rua em nome de um interesse amoroso e se divertiu em um cemitério, desta vez o centro é a busca por respostas a questões existenciais.

    "O que eu tinha na cabeça como temas centrais são as questões existenciais, que geralmente a psicanálise não trata: 'Quem somos?', 'de onde viemos?', 'para onde vamos?'", diz Calligaris. "Queria levá-las a sério."

    *

    OS CINCO CASOS DE CARLO ANTONINI

    Vontade de viver?
    Na primeira história, Antonini tem como paciente uma jovem de 18 anos que quer tirar a própria vida após receber diagnóstico de doença incurável

    Pouco tempo
    A morte volta na segunda história, na qual a paciente é uma acumuladora que precisa lidar com o pouco tempo de vida da mãe

    Luta por uma causa?
    Uma jovem decide se converter ao islamismo e se juntar ao Estado Islâmico, deixando o psicanalista confuso sobre como ajudá-la

    Profissão detetive
    Antonini precisa ser um verdadeiro detetive no quarto caso para descobrir se seu paciente é realmente culpado de um assassinato

    Sentindo na pele
    Na quinta história, Antonini se interna em uma clínica para ajudar a própria nora, que acabou de sofrer um surto psicótico

    *

    NA TV
    "Psi"
    QUANDO aos domingos, 21h, na HBO, 16 anos

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