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    Compositor carioca conhece poema em metrô de NY e musica obras do autor

    AMANDA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    11/04/2017 02h13

    Era a primeira viagem de metrô que o carioca Vinicius Castro fazia ao chegar em Nova York para estudar engenharia de som em 2015.

    Topou logo com uma definição de paraíso estampada na parede do vagão: "será o passado/ e todos viveremos lá juntos", dizia o verso introdutório do poema em inglês.

    "Heaven", do poeta norte-americano Patrick Phillips, habitava as páginas da coleção "Boy" e foi parar em vagões do metrô devido ao tradicional programa literário Poetry in Motion, parceria entre a companhia de transporte e a Poetry Society of America.

    Tiago Chediak/Divulgação
    O compositor carioca Vinicius Castro no metrô de NY, onde o projeto começou
    O compositor carioca Vinicius Castro no metrô de NY, onde o projeto começou

    Ainda hoje, Castro, 31, não sabe explicar claramente sua identificação com a obra, mas diz ter encontrado nela uma "aura". "Os poemas do Patrick em geral tocam muito no quesito de família e eu só fui descobrir isso depois que eu li todos os livros", descreve.

    "Esse poema em particular fala sobre o paraíso e o céu não como o lugar para o qual você vai depois que morre, mas como um tempo, a reunião das pessoas todas que você amou na vida e que vão se encontrar de novo, não num lugar, mas no passado, ou seja, o céu é uma memória."

    Consumido pelo conceito, deu à obra uma nova parada: publicou-a nas redes sociais, e acabou encorajado pela sogra a musicar os versos.

    Assim começava a nascer o álbum "Broken Machine Project", lançado no fim de março em plataformas digitais. Na produção, Castro teve de enfrentar as próprias limitações caso quisesse manter íntegros "Heaven" e as outras oito obras do norte-americano garimpadas por ele.

    Ele explica: "Os poemas do Patrick têm um ritmo musical de certa maneira, mas há formas que não são necessariamente musicais, como, por exemplo, as estrofes, irregulares, que não se repetem."

    "Já vi muitos projetos em que você consegue perceber claramente que alguém pegou um poema e musicou, e fica um pouco forçado ou então as pessoas mudam as palavras para fazer encaixar."

    Antes de Phillips, o compositor já havia criado anteriormente melodias para um soneto de Pablo Neruda e para obras de Fernando Pessoa e Profeta Gentileza.

    Com a herança inesperada deixada por sua avó Odete, a quem dedica o álbum, ele convidou nove músicos com quem já havia trabalhado para dar corpo ao projeto.

    Inspirado pelos estudos de música norte-americana, empenhou-se para compor emulando o folk, o rock e o jazz.

    "Para mim, tinha feito melodias caretas ritmicamente, sem tempos atrasados ou adiantados." Durante os ensaios, no entanto, ele notou que seus esforços ainda soavam diferentes aos músicos. "Percebi que não estavam quadradas."

    "Me descobri mais brasileiro do que eu me achava. Ficou óbvio que é impossível fugir de quem se é."

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