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    Análise

    Brasil é mercado vigoroso para filmes voltados a público religioso

    SANDRO MACEDO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/04/2017 02h07

    A fé não só move montanhas como agita bilheterias de cinema mundo afora.

    A bola da vez é "A Cabana", baseado em livro homônimo, um best-seller que, só no Brasil, vendeu mais de 4 milhões de cópias.

    Nas bilheterias não chegou a ser nenhum "Star Wars", mas teve desempenho satisfatório –que pode inclusive ter sido impulsionado pelas polêmicas. Arrecadou US$ 55 milhões nos EUA, quase o triplo dos US$ 20 milhões do custo de produção.

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    Os números da carreira internacional ainda são incipientes, mas, no Brasil, estreou com o segundo melhor público da semana: quase 550 mil pessoas, atrás apenas do fenômeno "A Bela e a Fera".

    Filmes de temática religiosa despertam a atenção dos cinéfilos desde os tempos dos épicos "espada & sandália", quando "Quo Vadis" (1951), "O Manto Sagrado" (1953) e "Ben-Hur" (1959) levavam multidões aos cinemas.

    Este último arrecadou US$ 74 milhões na época, mais de cinco vezes seu custo (US$ 14 milhões). O número atualizado seria de US$ 847,7 milhões, à frente de "Avatar".

    Depois de algumas décadas agnóstica, Hollywood voltou com uma nova safra religiosa, que tem agradado mais ao público externo do que ao interno.

    A refilmagem de "Ben-Hur", em 2016, acumulou só US$ 26,4 milhões (o orçamento foi de US$ 100 milhões). No resto do mundo somou mais US$ 67,6 milhões. "Noé" (2014), com Russell Crowe, também teve orçamento (US$ 125 milhões) maior do que o valor arrecadado nas bilheterias americanas (US$ 101 mi).

    Curiosamente, ou não, um dos mercados que ajudaram a pagar as contas nos dois casos foi o brasileiro.

    Foi por aqui que "Ben-Hur" teve seu terceiro melhor público no resto do mundo; "Noé" encontrou no Brasil seu segundo principal mercado estrangeiro, atrás apenas da Rússia. Isso em um país com moeda oscilante, digamos.

    Outro tipo de "cinema cristão" tem dado mais resultado: filmes pequenos, de baixo orçamento e vida mais longa nas telas.

    É o caso de "Deus Não Está Morto" (2014), que custou meros US$ 2 milhões e faturou 30 vezes mais só nos EUA. Já teve uma sequência e terá outra no próximo ano, todas distribuídas pela pequena Pure Flix Entertainment, que explora o filão com paz e sabedoria.

    Entre outros filmes do grupo estão "Questão de Escolha", uma coprodução brasileira, "Você Acredita?" (2015) e o novo "O Caso de Cristo", que estreou nesta semana nos EUA com arrecadação de apenas US$ 4 milhões –mas não parece ter custado muito mais do que isso.

    PRODUÇÃO NACIONAL

    Entre as produções brasileiras, o maior público do cinema é de um filme religioso (ou não): "Os Dez Mandamentos", com supostos 11,3 milhões de espectadores –em muitas sessões com ingressos esgotados era possível ver muitos lugares vazios. A "lotação" teria acontecido pela compra de bilhetes por membros da Igreja Universal, maquiando o público real.

    Aliás, "Os Dez Mandamentos" guarda uma semelhança com "A Cabana": a venda em grupo. No perfil do Instagram do filme no Brasil, é possível perceber várias fotos com muitos espectadores, o que levanta a hipótese de ser um fenômeno ligado a grupos de igrejas.

    Entre outros filmes de apelo cristão, Moacyr Goes dirigiu "Irmãos de Fé" (966 mil espectadores) e "Maria - Mãe do Filho de Deus" (2,3 milhões), ambos com participação do pop padre Marcelo Rossi.

    A Cabana
    William P. Young
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    Melhor se sai a linha espírita, com sucessos como "Nosso Lar", com 4 milhões de espectadores, nono melhor público desde 1995, ano da retomada –e à frente de comédias bem-sucedidas como as da franquia "Até que a Sorte nos Separe" ou "Vai que Cola".

    Outro campeão de público é "Chico Xavier" (3,4 milhões) e até a pequenina produção "Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírita" teve bom desempenho, com 402 mil espectadores. Na ficção, o brasileiro não perdeu a fé.

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