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    Crítica

    Versão de comédia do século 18 acaba sendo homenagem a teatro

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    12/04/2017 02h03

    Divulgação
    Isabelle Huppert (Araminte) e Louis Garrel (Dorante) em cena de 'As Falsas Confidências
    Isabelle Huppert (Araminte) e Louis Garrel (Dorante) em cena de 'As Falsas Confidências'

    Marivaux é um dos nomes centrais do teatro francês no século 18. Seu forte era o recurso ao humor para a crítica de costumes. Nisso, cabia à intriga amorosa revelar os podres da sociedade, envolvendo pessoas de diferentes classes sociais.

    Disso, "As Falsas Confidências", que tem como protagonistas a atriz Araminte (Isabelle Huppert) e seu novo secretário, Dorante (Louis Garrel), é um belo exemplo.

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    O objetivo de Dorante, por inspiração de seu tio, Rémy, é dar o golpe do baú na atriz, para o que precisa afastar a concorrência do conde Dorimont. Ou seja, um dos pretendentes, o conde, é nobre e rico; o segundo é pobre, mas bonitão –e bem mais jovem que o conde e, de resto, que a própria Araminte.

    A herança de Marivaux no cinema francês é bastante rica: esse tipo de disse me disse, com seus mal-entendidos e decorrências, encontramos, para ficar num só exemplo, em "A Regra do Jogo", de Jean Renoir.

    A adaptação de Luc Bondy é interessante por mais de um aspecto. O primeiro deles é o de preservar a elegância do francês clássico, embora trazendo a intriga para a era contemporânea. A segunda, não menos relevante, é o fato de ter rodado todo o filme no também clássico Teatro do Odéon, em Paris.

    Ali mesmo Bondy montou a peça em 2014. O êxito levou à remontagem em 2015, quando o diretor realiza, também, o filme. Isto é, o mesmo grupo de atores filmava durante o dia e representava a peça à noite. Os vários recantos do teatro tornaram-se cenários para as várias situações da peça.

    O resultado é tão estranho quanto a própria atualização do texto. No que diz respeito a esse, preserva-se a linguagem, mas muda-se a época e certas atribuições das personagens (Araminte deixa de ser uma rica viúva para ser atriz famosa etc.).

    É difícil entender o que se ganha com isso, embora também não haja nenhuma perda significativa.

    Já o uso das instalações do teatro parece mais discutível. Não por elas em si, mas porque talvez a eficácia da mise-en-scène dependa em parte dos cenários teatrais, do entra e sai incessante desse tipo de peça.

    As diversas locações no interior do teatro aparentemente arrefecem o ritmo e tiram um tanto do brio do espetáculo –belíssimo, a julgar pela última cena do filme, a única em que aparece o palco teatral.

    Luc Bondy morreu em novembro de 2016, de pneumonia, tendo concluído apenas a primeira montagem do filme. Sua morte acaba por determinar o principal sentido do filme: ele é antes de tudo uma homenagem ao próprio Odéon, feita pelo seu antigo diretor artístico.

    Nada desprezível, mas sente-se que o resultado poderia ser mais direto, menos dispersivo.

    AS FALSAS CONFIDÊNCIAS (LES FAUSSES CONFIDENCES)
    DIREÇÃO Luc Bondy e Marie-Louise Bischofberger
    ELENCO Isabelle Huppert, Louis Garrel, Jean-Pierre Malo
    PRODUÇÃO França, 2016
    QUANDO estreia nesta quinta (13)
    CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS
    Veja salas e horários de exibição.

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