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    Crítica

    De moral maniqueísta, 'Una' tem mulher histérica e homem tarado

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/04/2017 02h02

    Divulgação
    Rooney Mara é Una, abusada por um vizinho aos 12 anos
    Rooney Mara é Una, abusada por um vizinho aos 12 anos

    Abuso sexual é um tema tão delicado que os que tentam dramatizá-lo correm o risco de carregar demais nas tintas ou, ao contrário, torná-lo só mais uma ofensa entre tantas. "Una" tenta pisar nesse terreno minado sem ferir suscetibilidades e, por isso, o resultado é frustrante.

    O diretor Benedict Andrews estreia no formato longa depois de coassinar as filmagens de uma montagem teatral de "Um Bonde Chamado Desejo". Em "Una", Andrews também parte de um texto teatral e obedece a algumas convenções do meio, como a concentração espacial e a encenação do conflito por meio de duelos verbais.

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    Essa regra só é quebrada pela inserção de flashbacks, artifício narrativo antiquado que se usa aqui para expor os motivos que mortificam a personagem-título e para tentar libertar o filme da pesada moldura teatral.

    Outro investimento evidente aparece no elenco, com os sólidos Rooney Mara e Ben Mendelsohn se digladiando na pele de personagens difíceis e nada simpáticos.

    O núcleo do drama é o reencontro de Una e Ray. Ela tinha 12 anos quando teve um caso com ele, um vizinho maduro. O amor proibido acabou interrompido e ela se transformou numa mulher obcecada, que se entrega ao sexo anônimo e que decide procurar o ex-amante para um acerto de contas. Ele foi condenado por abuso e depois reconstruiu a vida.

    Logo nas primeiras cenas, o filme mostra que não vai tratar o assunto da perspectiva do desejo maduro e da sedução adolescente, como Nabokov e Kubrick ousaram fazer mais de meio século atrás no clássico "Lolita". Nem se interessa pelas possibilidades de abordar o erotismo infantil sem inibições, como fez Gregg Araki em "Mistérios da Carne".

    Agora, sinal dos tempos, tudo se resume à culpa e à punição. No fim, a moral maniqueísta do texto impõe imagens, no mínimo questionáveis, da mulher como histérica vingativa e do homem como tarado. O mundo já não anda bastante limitado para termos de aguentar isso?

    *

    UNA (UNA UND RAY)
    QUANDO: estreia nesta quinta (13)
    ELENCO: Rooney Mara, Ben Mendelsohn, Riz Ahmed
    PRODUÇÃO: Reino Unido, EUA, Canadá, 2016, 16 ANOS
    DIREÇÃO: Benedict Andrews
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