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    Época de caça-cliques abastece o humor, afirma Marcius Melhem

    FELIPE GIACOMELLI
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    14/04/2017 02h04

    Como fazer um programa de humor em uma época na qual os fatos muitas vezes estão mais estranhos que a ficção? Esse é o problema do "Zorra", humorístico da Globo cuja terceira temporada estreia neste sábado (15) com o mote "está difícil competir com a realidade".

    Até dá para discutir se estes são tempos loucos, mas para Marcius Melhem, cocriador e redator da atração e colunista da Folha, o bombardeio diário de notícias cada vez mais curiosas é uma consequência da internet e de seu modelo de negócios baseado em cliques.

    "O caça-clique contribui para o fator bizarro. Hoje existe na internet uma hipervalorização da velocidade que prejudica a apuração jornalística. Reportagens muitas vezes que ainda estariam no estágio de apuração são colocadas no ar rapidamente para gerar clique. É muitas vezes um desserviço e até sensacionalista", avalia.

    "E isso favorece o humor, porque o jornalismo tem se ocupado em função do clique de fatos que não têm nenhuma relevância", diz.

    Melhem, aliás, não é nenhum estranho para o mundo das notícias. Antes de se dedicar ao humor, formou-se em jornalismo e por 15 anos cobriu economia. Desse tempo, guarda o hábito de ler jornais no papel, ainda mais em fins de semana.

    Mas não é só o jornalismo na web que tem alimentado o humor feito por ele na TV. "O telejornal é um prato cheio para o 'Tá no Ar'", diz sobre a atração da qual é cocriador, redator e ator. "O telejornalismo tem uma seriedade que é muito gostosa de se quebrar. Como o humor é quebra de expectativa, quando você coloca um fato perturbador em um telejornal, sempre funciona. Teve, inclusive, aquela piada pronta do correspondente da 'BBC' cujos filhos entraram na sala com ele ao vivo", acrescenta.

    Da realidade também saem as imitações e paródias, técnica mais do que comum em qualquer humorístico. "O Trump é um personagem em si, o Doria, o Temer são figuras que têm uma persona bem marcada. Toda pessoa que tem uma persona muito clara você pode parodiar", diz.

    Outra forma de como o noticiário ajuda os programas de humor é que acaba dando espaço para o surgimento de figuras mais do que curiosas. mesmo quando o assunto for sério, como a Lava Jato.

    "As operações policiais e as decisões judiciais têm ganhado uma projeção e uma divulgação para ter adesão e apoio popular, mas tem um ônus: as de algumas pessoas aparecerem mais do que algumas instituições", avalia.

    "O Japonês da Federal [apelidado pelo qual o agente Newton Ishii ficou conhecido] aparecer mais do que a Polícia Federal não é bom para a PF, que deveria ter mais destaque como instituição. Mas no humor é ótimo, porque a gente vai nele", explica Melhem.

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