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    Cantora canadense Feist lança 'Pleasure', álbum sobre a tristeza

    JOE CASCARELLI
    DO "NEW YORK TIMES"

    16/04/2017 02h00

    "Descreva em 10 palavras a maneira pela qual você experimenta a solidão". "O que o faz sentir ternura?" "Descreva um dia solitário, em uma sentença".

    É assim que Leslie Feist, cantora e compositora canadense mais conhecida pelo sobrenome, retorna à vida pública: armada com 16 solicitações de dados emocionais que ela chama de "questionário do prazer" -uma espécie de primeiro contato com os desconhecidos que ela virá a encontrar ao promover seu novo álbum, "Pleasure", que sai em 28/4.

    Ela tem noção de que está pedindo muito. "Seria difícil que, mesmo em uma vida toda de amizade, alguns desses tópicos viessem a ser debatidos", Feist escreveu em um e-mail, prometendo discrição. "Mas são essas as coisas que mais quero saber".

    Elizabeth Weinberg/The New York Times
    A cantora e compositora canadense Leslie Feist, cujo disco 'Pleasure' sai em duas semanas
    A cantora e compositora canadense Leslie Feist, cujo disco 'Pleasure' sai em duas semanas

    "Pleasure", seu primeiro álbum em seis anos, gira em torno de temas igualmente elevados e de questões amplas, e a música serve como resposta da compositora às perguntas do questionário. "Cá estou, levando a vida", ela disse, "e as canções me ajudam a compreender". Ela não está interessada em epifanias. "Hoje, sei muito menos do que no passado sobre o que a vida deveria ser. É relaxante".

    Esse é o estado semizen atingido por uma cantora que rejeitou um tipo de fama que não a interessava em favor de uma versão mais pessoal. Uma década depois de "1234", um hit acidental de metade de carreira que mudou o rumo de sua vida, Feist, 41, se tornou mais introspectiva.

    O álbum consiste basicamente apenas de sua voz e guitarra singulares, mas pulsa com intimidade e com chiados analógicos, enquanto murmúrios roucos se tornam gritos e riffs metálicos ecoam até sumir.

    Em duas longas caminhadas em fevereiro e março -uma pelo Central Park de Nova York e outra nas montanhas ensolaradas por sobre Los Angeles- Feist se mostrou descontraída e volúvel, e propensa a divagações discursivas, enquanto descrevia o tumulto e a incerteza pessoais que conduziram a esse álbum emaranhado e trabalhoso.

    "Tenho passado por muitas tristezas, ultimamente", ela disse, falando de modo um tanto abstrato para evitar revelar de onde exatamente vieram essas tristezas, e ao mesmo tempo discutindo a decisão de "colocar uma palavra que claramente não parece se encaixar" na capa de seu novo trabalho, que está longe de borbulhar alegria.

    "Pleasure" [prazer] é a primeira faixa e single do álbum. "É uma palavra tão imprecisa e unidimensional que, na verdade, se você a olha de mais perto, ela carrega anseio, perda e autopunição", disse Feist. "O prazer está implícito na dor, que está implícita no prazer".

    Em meio ao sucesso de "The Reminder", o álbum de 2007 que trouxe o hit "1234", Feist ganhou injustamente a reputação de ser meio indie e meio folk, por conta de suas canções que se tornaram mais conhecidas, como "Mushaboom" e "I Feel It All".

    Canções novas como "Lost Dreams" e "Century" se aproximam da crueza, expondo vergonha e desespero, e a instrumentação minimalista não enfeita as melodias ternas e as letras muitas vezes impiedosas de Feist. "Eu tinha alguma certeza de que você morreu/ por que como eu poderia viver se você ainda está vivo?", ela canta em "I Wish I Didn't Miss You".

    "O som às vezes parece mais pesado que o heavy metal, se você está sozinho, porque você faz que algo muito pequeno pareça muito grande", disse Feist sobre os arranjos secos, que ela define como "um reflexo natural do meu estado de espírito". O álbum pode ter surgido de um sentimento de abandono, mas culminou em uma "solidão potente e positiva", ela disse.

    Galgando pedras no Central Park, ela falou sobre o "casebre" em uma ilha canadense isolada e sem eletricidade na qual ela passa algumas semanas a cada verão.

    "Naquela ilha, eu descobri poesia realmente concreta", disse Feist, comparando seus estados de espírito às tempestades. "Eu as via chegando, vivia seus efeitos e, logo depois, elas passavam".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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