O roteirista Damon Lindelof pode ganhar um Oscar, vencer um Nobel e embolsar um Pulitzer. Mas ele será sempre lembrado como o responsável pelo final controverso de "Lost", série que é um dos pilares da revolução da TV americana nos últimos anos.

"Você precisa mesmo me perguntar sobre o final de 'Lost?'", questiona Lindelof, num misto de impaciência e educação. "Entendo a comparação, porque sou uma linha em comum entre as duas séries. Mas a ideia de que sou o autor de 'The Leftovers' é irreal. O final foi um esforço de grupo. Mas admito que citamos 'Lost', pois terminar algo que amamos tanto é difícil."

A série, que chega neste domingo à sua terceira -e última- temporada, foi cocriada com Tom Perrotta, autor do livro que inspirou o programa.

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	Cena da terceira e última temporada de 'The Leftovers', série da HBO

Quando surgiu, há três anos, com dez episódios sobre habitantes de uma cidadezinha lidando com o desaparecimento de 2% da população mundial, estreou com toda a pompa. "The Leftovers" imagina um mundo que teria passado pelo arrebatamento: Jesus resgatou almas escolhidas para ascender aos céus.

A série mostra o lado prático de como as pessoas que ficaram reagiriam ao não serem "arrebatadas".

Mas a história do policial Kevin Garvey (Justin Theroux) ganhou um tom tão melancólico que muitos espectadores abandonaram o barco logo no início.

"O livro de Tom tem um certo humor, e resisti à ideia de injetar isso na série", admite Lindelof.

"Achava que esse mundo era triste e deprimido o tempo todo. Mas notei que você pode rir no funeral, é um alívio para a dor. Aprendi isso no processo e abri meus olhos. A série passou a ficar mais bem-humorada, meio como 'Twin Peaks'."

FILHOS DIFERENTES

De repente, "The Leftovers" virou "a melhor série que ninguém está vendo", como escreveu a revista "The Hollywood Reporter".

"Quando estávamos escrevendo essa temporada, sentimos que ela também deveria passar a sensação de ser um livro, com começo, meio e fim", revela Lindelof.

Duas semanas depois do fim da segunda temporada, os criadores receberam o telefonema da HBO: a série teria mais oito episódios, mas seriam os últimos.

"Foi um sentimento agridoce", admite o ator Justin Theroux. "É ruim ter de acabar algo que gostava de fazer e que sei que nunca mais terei a chance de repetir, mas fico feliz de poder terminar a jornada de Kevin da maneira apropriada."

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Tom Perrotta

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O fim não é tão polêmico quanto o de "Lost" e será bem menos contundente. "Não é uma série sobre encontrar respostas. As pessoas que estão vendo para descobrir algo antes e dizer que são espertas não ficarão satisfeitas com o fim", adianta Perrotta.

"Se aprendi algo com 'Lost'", completa Lindelof, "é que você não pode escrever para os espectadores. Pode parecer arrogância, mas isso paralisa a criação. E se as pessoas gostarem de 'The Leftovers' e falarem que eu me redimi pelo fim de 'Lost', será mentira, porque são coisas diferentes. Não me desculpo por aquele final. São filhos diferentes do mesmo pai."

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NA TV

The Leftovers
Quando domingos, às 22h, na HBO; 16 anos