Monteiro Lobato dizia, em uma carta a um amigo, em 1943, que se sentia usado por Emília, a boneca de pano, como um médium é usado por um espírito. "Ela me entra nos dois dedos que batem as teclas e diz o que quer, não o que eu quero. Cada vez mais Emília é o que quer ser, e não o que eu quero que ela seja", escreveu.

Tagarela, espevitada, às vezes grosseira, a boneca de pano era amada pela trupe do Sítio do Picapau Amarela.

O escritor faria 135 anos nesta terça-feira (18). Como lembrança de sua obra, a Folha reuniu abaixo dez curiosidades sobre a personagem criada por ele. Elas foram tiradas do livro "Emília - Uma biografia não autorizada da Marquesa de Rabicó" (Casa da Palavra), de Socorro Acioli.

1.

Emília tinha dois palmos de altura, o que equivale a 40 centímetros, pesava cinco quilos e não tinha coração —literalmente.

2.

A boneca de pano torcia pelo Palmeiras e, se pudesse escolher um planeta para viver, dizia que seria saturno. Sonhava ser mulher de um grande pirata e tinha na "pombinha branca" sua ave preferida.

3.

Reny de Oliveira, segunda atriz a interpretar a boneca na TV, nos anos 1970, foi demitida do posto ao posar para a "Playboy". Ela aparecia na capa da revista caracterizada como a personagem, com a frase "Escândalo no Sítio do Picapau Amarelo! Emília Tira a roupa!".

4.

Como era de pano, não tinha doenças como os humanos. Mas, segundo dizia, certa vez sofreu de "anemia macelar no pernil barrigóide esquerdo".

5.

Boneca de pano também não come como os seres humanos, e Emília se ressentia disso. Mesmo assim, em "Reinações de Narizinho", ela comeu croquetes no Reino das Águas Claras.

6.

Emília chegou a contratar o Visconde de Sabugosa para escrever suas memórias, mas o destituiu do posto quando viu que ele estava escrevendo umas verdades sobre ela. "Minhas memórias são diferentes de todas as outras. Eu conto o que houve e o que deveria acontecer", disse ela na ocasião.

7.

A primeira criança a interpretar a Marquesa de Rabicó foi Isabelle Drummond, em 2001.

8.

Emília chegou a fazer um bico de repórter, quando visitou o País da Gramática. Ela entrevista o verbo ser para o jornal "O Grito do Picapau Amarelo".

9.

Ao longo dos livros de Monteiro Lobato, Emília inventou um montão de palavras e expressões. O petróleo, por exemplo, era chamado de "azeite de defunto". "Borboletograma", por sua vez, eram telegramas enviados nas asas das borboletas. Há ainda palavras como "bissurdo" (absurdo), "liscabão" (beliscão) e "legímaco" (legítimo), entre outras.

10.

Emília morria de vergonha do marido, o Marquês de Rabicó, e só se casou com ele por interesse, uma vez que sonhava ser princesa. Um dia, quando viu Tia Nastácia cozinhando um leitão, começou a comemorar achando que tinha ficado viúva.