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    Depoimento

    É difícil que revivam os ares de liberdade do Nation

    ZECA CAMARGO
    COLUNISTA DA FOLHA

    19/04/2017 02h00

    Divulgação
    Interior do Nation, que reabriu semana passada em SP
    Interior do Nation, que reabriu semana passada em SP

    Estou longe da balada –ou talvez a balada esteja longe de mim. De todo modo, é uma distância saudável para este que cresceu dançando não em espaços gigantes para catarses coletivas, mas em pequenos clubes que se escondiam embaixo das galerias da r. Augusta, na virada dos anos 80 para os 90. Tipo Nation.

    Não sou dado a saudosismos, mas, quando soube que esse lugar histórico da noite paulistana estava prestes a reabrir, bateu a saudade. Das músicas, da intimidade que era a marca da noite naquele tempo, da efervescente criatividade das pessoas que a frequentavam, da vontade (hoje misteriosamente reprimida) de ser diferente –não apenas uns dos outros, mas a cada dia. Ou noite.

    A "cultura de clubes", que primeiro vivi no exterior –sobretudo no berço desse movimento, a Londres do início dos anos 1980– demorou um bocado para chegar aqui. Quando finalmente aconteceu, veio com vontade, força e inventividade que se refletiram numa enorme originalidade.

    Eram espaços para poucos –e o Nation, apesar de isso não ser uma estatística, talvez o mais apertado de todos.Vou chutar que ali cabiam o quê? 150? 200 pessoas? A sensação era a de que estava sempre tão lotado que mais nenhuma pessoa poderia entrar.

    Mas que delícia era circular entre uma pequena multidão de amigos e, quando não era o caso, pessoas que falavam a mesma língua. A da transgressão e da diversão.

    Outros tempos esses nossos de hoje –bem mais caretas e repressores, apesar de tudo, tudo, tudo que fizemos.

    Difícil imaginar uma festa no novo Nation que, em épocas de redes sociais, goze da liberdade de fazer o que quiser sem ser julgado –ou sem ver um "snap" seu transformado em meme (nem sempre uma mutação positiva).

    Mas acredito que a mesma fauna –e uso essa palavra como elogio maior– que fez história no velho Nation talvez ainda encontre lá um refúgio. E as gerações que vieram depois –estamos falando de duas ou três– possam entender que não são aves tão estranhas assim. Há agora um ninho para todas elas.

    Quem sabe até eu passe por lá –nem que seja para devolver um vinil que certa vez Mauro Borges, o grande DJ por trás daquelas noites, me emprestou e que está até hoje no meu empoeirado arquivo de bolachas de 45 RPM: uma certa versão dançante de "Nothing Compares 2 U" (com Sinéad O'Connor) que era certeza de pista cheia a qualquer hora da noite. Por falar em transgressão...

    NATION DISCO CLUB

    ONDE r. Augusta, 2.203, Cerqueira César, tel. (11) 99715-0533

    QUANDO de qui. a sáb., das 23h30 até o último cliente; 18 anos

    QUANTO de R$ 25/R$ 30 (ingresso mulher/homem) ou R$ 50/R$ 60 (consumação mulher/homem)

    Edição impressa

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