• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 01:41:06 -03

    Opinião

    Belmonte soube aproveitar a força da imprensa

    ÁLVARO DE MOYA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    19/04/2017 02h00

    Reprodução
    Belmonte satiriza Hitler e Mussolini, comparando-os a personagens de Cervantes
    Belmonte satiriza Hitler e Mussolini, comparando-os a personagens de Cervantes

    Angelo Agostini, J. Carlos e... Belmonte! Louvável a iniciativa da Três Estrelas de lançar um livro com a vida e a obra de um dos maiores cartunistas do Brasil: o criador do Juca Pato, Belmonte.

    No Império, o país teve grandes desenhistas tão logo a imprensa foi lançada. O ítalo-brasileiro Angelo Agostini criticava autoridades, padres, era a favor da abolição e da República. Foi um dos precursores das histórias em quadrinhos, contemporâneo do suíço Rodolphe Töpffer e do alemão Wilhelm Busch.

    J. Carlos era o Proust do Rio, com suas melindrosas e almofadinhas. Belmonte soube aproveitar a força da imprensa e, muito culto, militou em todas as áreas. Tinha uma relação telúrica com São Paulo.

    Sua melhor fase foi na Folha, levado por Paulo Duarte. Foi aí que criou seu mítico personagem Juca Pato, um "alter ego", baixinho, cabeça grande, óculos de miopia. Era o cidadão classe média vítima dos desgovernos. Virou até nome de bar na avenida São João.

    A relação de Belmonte com a cidade levou-o a focalizar a saga dos bandeirantes e publicar diversos livros, com detalhes e cuidado nos trabalhos. Nascera no Brás aos 15 de maio de 1896 com o nome de Benedito Bastos Barreto, depois adotando o nome artístico.

    Os desenhos chamaram a atenção da MGM, que o convidou para redesenhar anúncios da rica página de cinema dos jornais. Foi-lhe oferecido trabalhar nos States, mas não poderia ficar longe de SP.

    O grande crítico cinematográfico Rubem Biáfora levou-me para ver a página dos anos 1930 com anúncios refeitos por Belmonte. Lembro-me de Marlene Dietrich ajoelhada diante de uma ânfora... belíssima!

    Nos anos da ascensão do nazismo, Belmonte, com sua sensibilidade artística, viu o perigo do fanatismo nacionalista. O Brasil entrou na guerra contra o Eixo. Na época, era voz corrente no país: "Se é para lutar contra a ditadura, por que não lutar aqui mesmo?", em referência a Getúlio.

    Em 9 de abril de 1947, pediu para dar uma volta de carro, sentindo o seu fim. Dez dias depois, às 3h45, veio a sucumbir. Foi uma comoção geral. A população, que ignorava seu estado de saúde, ficou chocada.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024