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    Crítica

    Em 'A Terceira Margem' mundo branco e indígena se opõem

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/04/2017 02h02

    Divulgação
    Cena de 'A Terceira Margem', filme de Fabian Remy em competição no É Tudo Verdade
    Cena de 'A Terceira Margem', filme de Fabian Remy em competição no É Tudo Verdade

    Em "A Terceira Margem", de Fabian Remy, a primeira imagem que vemos é uma saudação à natureza.

    O azul do céu que ocupa boa parte do quadro, na horizontal, quase encontra o azul da água. Entre eles, uma pequena faixa com o verde das árvores e um fiapo de areia. Mais tarde entendemos que essa imagem representa dois mundos distintos.

    Antes encontramos Funi-ô Thiní-á, índio que deixou sua tribo aos 15 anos para viver na cidade grande. Ele volta à região onde nasceu para nos mostrar a história de João Kramura, branco roubado de seus pais na infância e criado entre os índios caiapós.

    Temos o embate entre dois mundos, o indígena e o capitalista burguês, tema que já rendeu, no cinema americano, ficções importantes como "Renegando O Meu Sangue" (1957), de Samuel Fuller, ou "Pequeno Grande Homem" (1970), de Arthur Penn.

    No Brasil, esse embate é o mote de um interessante e irregular longa amazonense recente, "Antes o Tempo Não Acabava" (2016), de Sérgio Andrade e Fábio Baldo.

    Fabian Remy prefere o caminho documental, menos sujeito a intempéries. Sua câmera flagra conversas do filho pródigo com os que ficaram, ou as cerimônias e os costumes que Thiní-á testemunha.

    Imagens de 1953, do encontro dos irmãos indigenistas Villas Boas com o jovem João Kramura, fornecem a base histórica sobre a qual o filme irá se debruçar em sucintos 57 minutos.

    João Kramura morreu. Sua história é, portanto, investigada por Thiní-á, este também num processo de redescobrimento de sua própria história.

    Podemos questionar a segurança com a qual o diretor construiu seu relato. Com uma estrutura pouco inventiva, o filme por vezes parece estar em uma redoma que praticamente afasta qualquer possibilidade de risco.

    Mas é um pouco por essa segurança que a história desses dois homens apartados de suas raízes é mais bem apreendida pelo espectador.

    Se não há risco, há alguma força nesse didatismo. É o suficiente para que "A Terceira Margem" seja um documentário acima da média no cenário contemporâneo brasileiro.

    *

    A TERCEIRA MARGEM

    DIREÇÃO: Fabian Remy

    PRODUÇÃO: Brasil, 2016, livre

    QUANDO: em São Paulo: sex. (21/4), às 21h, no Cinearte; sáb. (22/4), às 22h, no Reserva Cultural; no Rio: dom. (23/4), às 21h, e seg. (24/4), às 14h, no Espaço Itaú Botafogo

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