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    Bactérias inspiram mostra de brasileiro em Nova York

    MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
    DE NOVA YORK

    21/04/2017 02h04

    Jason Wyche/Divulgação
    Obra de Thiago Rocha Pitta na galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea em Nova York
    Obra de Thiago Rocha Pitta na galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea em Nova York

    Circulando pela galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea, em Nova York, Thiago Rocha Pitta estava satisfeito com o resultado de sua segunda individual na cidade, que pode ser visitada até o final do mês.

    "Acho que foi a melhor que já fiz", comentou enquanto caminhávamos pela espécie de ecossistema em que se transformou o espaço principal da mostra, com duas dezenas de afrescos e uma intrigante escultura ao centro.

    Não por coincidência, o primeiro comentário na imprensa americana à exposição, intitulada "The First Green" (o primeiro verde), saiu na revista de ciência "Discover".

    O grupo de trabalhos exposto mantém, de fato, uma sugestiva conexão com a história natural e a formação da vida no planeta.

    Tudo começou em 2014, quando o artista voltou para casa, em São Paulo, após uma viagem à Noruega: "O jardinzinho estava morto, as plantas horríveis. Eu fiquei deprimido e comecei a cuidar delas. Ao mesmo tempo comecei a sentir vontade de trabalhar com verde, uma cor difícil, com a qual nunca tinha trabalhado antes", conta.

    Naquele período, ele começava também a experimentar com afrescos, produzindo placas de cimento, com argamassa de gesso e areia, sobre as quais aplicava os pigmentos.

    O primeiro verde tornou-se obsessão quando Thiago deparou-se em suas pesquisas com cianobactérias. Os microorganismos, verde-azulados, são a forma de vida mais antiga encontrada –há fósseis com datação de 3,7 bilhões de anos. Por meio da fotossíntese, cianobactérias foram responsáveis pelo longo processo de oxigenação do planeta.

    O artista foi então visitar Hamellin Pool, no oeste australiano, onde esses organismos se acumulam, formando estruturas semelhantes a rochas –os estromatólitos. Eles estão lá, como há bilhões de anos, e foram registrados num vídeo, exibido na antessala da exposição.

    As imagens foram feitas numa aurora, "um momento em que a luz e a escuridão ainda não se separaram", descreve.

    Em plano fixo, projetado de modo invertido, misteriosas formações vão se tornando mais visíveis, numa cena que pode lembrar a alguém as rochas flutuantes e paisagens imaginárias de René Magritte.

    Da aurora passa-se à luz, na sala dos afrescos e da escultura –uma colina de musgo úmido que se projeta de uma caverna de cimento. Uma trama de situações químicas, naturais e estéticas se instaura, tecendo metáforas que reverberam a fertilidade, as origens e as intrincadas conexões entre a vida e os processos ancestrais que lhe dão forma.

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