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    À frente da Mário de Andrade, editor Charles Cosac fala em 'novo inferno'

    JULIANA GRAGNANI
    MAURÍCIO MEIRELES
    DE SÃO PAULO

    21/04/2017 02h00

    Charles Cosac, 52, tem pesadelos com a Mário de Andrade. Sonha que ela pega fogo. "Tenho muito medo de incêndio, passei por um na infância", afirma, batendo na madeira.

    Visto por funcionários como "excêntrico", "criativo" e aberto ao diálogo, o milionário e ex-editor da Cosac Naify, extinta em 2015, diz viver seu novo "inferno" ao mesmo tempo em que se empolga com o primeiro emprego.

    Folha - Por que aceitou o convite para o cargo?
    Charles Cosac - Preciso de um inferno. Não sei viver em paz.

    Como é seu cotidiano?
    Hoje tenho patrões, sou subordinado. Na Cosac, não. Sempre almejei uma coisa de 8h às 17h, com vale-transporte, tíquete-refeição, férias. Eu me sentia menos cidadão pelo fato de nunca ter tido uma carteira de trabalho, ou por não saber o que é PIS ou Pasep.
    São Paulo é uma cidade onde as pessoas vivem de projetos, elas se apresentam e falam o nome do projeto delas. Como eu posso viver aqui sem projeto?

    Como ficará a programação cultural da biblioteca?
    Começa atrasada, mas cresce. Estamos tendo concertos de música erudita, jazz, flamenco.

    Charles Cosac fala à Folha sobre a Biblioteca Mário de Andrade

    E a roda de samba de antes?
    [Sussurra e faz que "não" com a cabeça] Cortei. Já basta o samba do boteco ao lado. Não aguento duas rodas de samba. Esse samba virou flamenco e chorinho. Achei mais adequado.

    Não é uma medida elitista?
    A única coisa [da gestão anterior] eliminada foi o samba, porque já há samba nos bares ao redor. É claro que tenho minhas preferências musicais, mas elas não estão sendo impostas. Senão eu não botava chorinho, eu odeio chorinho.

    As festas também acabam?
    Absolutamente [sim].

    Você continua pagando coisas do seu bolso?
    Muitas. Preferiria não enumerar. Mas por que não ajudar a entidade onde trabalho? Eu cedo meu salário para a biblioteca, ou seja, trabalho gratuitamente.

    Qual sua relação com bibliotecas?
    Fiz coisas horríveis em bibliotecas. No mestrado, em Essex [Reino Unido], descobri que mudando o livro de lugar poderia ter todos os livros que quisesse. Fiz minha biblioteca dentro da biblioteca, no departamento
    de química. Espero que ninguém faça o que fiz.

    Tem sonhos com a Mário?
    Pesadelos. Tenho. Tenho muito medo de incêndio. Passei por um no prédio na infância, foi traumático.

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