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    Crítica

    'Os Dias Eram Assim' não traduz a complexidade do que retrata

    TONY GOES
    COLUNISTA DO "F5"

    24/04/2017 02h00

    Maurício Fidalgo/Divulgação
    Gustavo (interpretado por Gabriel Leone) picha muro em cena de "Os Dias Eram Assim", supersérie da Globo ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Gustavo (interpretado por Gabriel Leone) picha muro em cena de "Os Dias Eram Assim", série da Globo

    Arnaldo (Antonio Calloni) é um vilão consumado. Um empresário arrogante, que maltrata a mulher Kiki (Natália do Vale) e tenta controlar a filha Alice (Sophie Charlotte). Mas vai além: não só apoia financeiramente o aparato repressor do regime militar, como sente um prazer sádico em acompanhar sessões de tortura. Calcado em figuras reais como Henning Boilesen, não tem lá muitas nuances.

    Do outro lado do espectro político está o idealista Túlio (Caio Blat), que adere à luta armada. Logo no primeiro capítulo, ele comete um atentado "light": solta uma bomba na entrada da fictícia Construtora Amianto, que pertence a Arnaldo. Sem vítimas, só uns poucos danos materiais, que é para manter a simpatia do público. Imediatamente capturado pela polícia, morre ao som de Walter Franco –um requinte a mais de crueldade.

    Entre os dois extremos, há uma dezena de personagens que não está nem aí para a política. Como Renato (Renato Góes), que se apaixona por Alice à primeiríssima vista numa passeata onde ambos estavam por acaso. Renato é irmão de Gustavo (Gabriel Leone), que é amigo de Túlio. Só por causa disso, o pai da mocinha irá infernizar sua vida, acusando-o de envolvimento com a subversão. O jovem médico será obrigado a se exilar do país.

    Esta é, em linha gerais, a trama central de "Os Dias Eram Assim", supersérie (novo nome que a Globo dá às suas novelas mais curtas) que estreou na segunda (17). Um romance proibido que começa em 1970 e vai até 1984.

    As autoras Angela Chaves e Alessandra Poggi, pela primeira vez como titulares de uma obra, já colaboraram em inúmeras novelas e séries alheias. Aprenderam todos os clichês, embora ainda não tenham conseguido traduzir a complexidade do período que escolheram retratar aqui.

    Nem todos os apoiadores dos governos militares eram brucutus sanguinários, assim como nem todos os "subversivos" eram anjinhos caídos do céu. O maniqueísmo, se ajuda na compreensão do conflito, também o infantiliza. Não fosse pelas poucas cenas de violência, a série poderia ser uma novela das seis.

    Pelo menos em sua primeira semana, a supersérie carregou nas tintas do romance e não se preocupou em examinar as contradições de um tempo ainda pouco explorado pela nossa teledramaturgia.

    Some-se a isto uma reconstituição de época menos que perfeita e uma trilha sonora que inclui uma versão de "Tempo Perdido", que o Legião Urbana só lançaria em 1986, e o trocadilho se faz inevitável: não, os dias não eram assim.

    Os Dias Eram Assim

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