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    Em 'docudrama', atrizes revivem experiência retratada em diário

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    28/04/2017 02h25

    Divulgação
    As atrizes Martha Nowill (à esq.) e Maria Manoella em cena de 'Vermelho Russo', no qual revivem viagem que fizeram a Moscou para estudar atuação
    As atrizes Martha Nowill (à esq.) e Maria Manoella em cena de 'Vermelho Russo'

    "Não sei como não fomos expulsos do avião", anota a atriz Martha Nowill no diário. "Eu teria matado alguém se tivesse que [...] aturar uma equipe de cinema de baixo orçamento filmando sem autorização durante a viagem inteira."

    É quase um metadiário. Ou do "diário do filme do diário", como ela mesma define.

    O filme é "Vermelho Russo", que estreou nesta quinta (27) e tem por base escritos pessoais de quando Nowill foi à Rússia estudar atuação, em 2008. Já o diário que abre esta reportagem é o das filmagens do longa, em 2014.

    O primeiro diário, o de 2008, foi publicado na revista "piauí", compilando as observações sarcásticas que Nowill colheu quando ela e a melhor amiga, a também atriz Maria Manoella, passaram 40 dias estudando o Método Stanislávski em Moscou.

    "Cheguei achando que ia arrasar e fui esculhambada", lembra Martha. "Foi doloroso, mas hoje é engraçado."

    O diretor Charly Braun leu as sacadas e viu ali um filme, um "docudrama" recontando a experiência, com as atrizes interpretando a si mesmas, na mesma gélida Rússia.

    "A primeira sensação que tive foi a de que gostaria de ter feito essa viagem também", diz ele. Também lhe interessava o fato de que o projeto seria um híbrido entre a ficção e o documental, interseção pela qual já enveredara.

    Mas a Rússia não é lá um cenário muito domável.

    "Na primeira semana a gente começou a achar tudo ruim", conta Martha. "E começamos um trabalho insano de reescrever o roteiro enquanto filmávamos."

    "Depois entendi que o filme era uma nova experiência: não importava se tudo era o mesmo de antes ou não."

    Boa parte do que está na tela é fruto de improvisação. "Pode ser tudo verdade ou pode ser tudo mentira", diz Manoella, sem abrir o que de fato foi ensaiado. "A autoficção permite essa confusão."

    Um retiro de artistas soviéticos serve de alojamento e proporciona outro leque de situações. A escola é outra, mas o duro método está lá.

    O TAL DO MÉTODO

    No começo do século 20, o teatrólogo moscovita Konstantin Stanislávski (1863-1938) elaborou um sistema de interpretação com base nas observações que fazia do próprio trabalho e de seus contemporâneos do Teatro de Arte de Moscou. Calcou a sistematização no realismo psicológico e no subtexto das ações.

    No filme, Manoella se viu atuando em pleno método. "Essa era uma história que eu conhecia. Não precisava decorar o texto, sabia todas as circunstâncias", diz. "Isso deu naturalidade, frescor."

    Ela diz, contudo, que "Vermelho Russo" é um filme que vai muito além, da história de "duas garotas que vão estudar no frio". "Isso é só pano de fundo. É uma história sobre amizade. Generosamente, abrimos ao espectador a nossa intimidade."

    Martha brinca: "Sempre quis fazer protagonista no cinema. Acho louco que meu primeiro grande papel tenha sido eu mesma que me dei."

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