Como as pessoas mais velhas vivem o tempo? A proposição arriscada de "Atentamente" é traduzir essas experiências estritamente subjetivas na linguagem quase objetiva do documentário.

Em seu segundo longa, a colombiana Camila Rodríguez Triana mergulha no cotidiano de um asilo de idosos em busca de um registro difícil de descrever a não ser evocando percepções e projetando sensações.

Libardo e Alba compõem um casal que se conheceu ali, são companheiros num lugar de solidões. Juntos, eles executam pequenos trabalhos manuais, ele tira fotos dela, escutam músicas, se distraem.

Algumas cenas mostram Libardo em reencontros ásperos com a filha, mas não há grande ênfase na reconstituição das identidades.

Em meio a esses momentos mais pessoais do relato, vemos outros internos diante do gestual dos funcionários, que reúnem os pertences de alguém que ocupava leitos agora vagos.

Essa imagem que se repete põe em cena um signo indizível, a presença constante da morte, acontecimento que paira no ambiente na forma de ausência, de vazio.

O desafio maior de "Atentamente" é se aproximar de seus personagens sem se deixar dominar pela comoção. Num dia eles estão ali, noutro podem ser não mais que uma placa de identificação na parede.

Para obter essa distância necessária, a realizadora evita o recurso das entrevistas. Não há olhares para a câmera, nem relatos em primeira pessoa. O método predominante é o da observação, um tipo de atenção que em alguns momentos se transforma em contemplação.

A escolha é fundamental para transmitir a temporalidade distinta dos personagens. Não se trata apenas de um sentimento concreto da finitude, atualizado no cotidiano pela morte dos colegas.

Trata-se também da presença disseminada do ócio, efeito da falta de condições adequadas para manter aqueles indivíduos ocupados. Assim, "Atentamente" focaliza sua questão principal, o abandono, de um ângulo que incomoda bastante.

*

ATENTAMENTE
DIREÇÃO Camila Rodríguez Triana
PRODUÇÃO Colômbia, 2016,12 anos
QUANDO hoje, no Espaço Itaú Botafogo (RJ), às 15h, e domingo (30), no CCSP (SP), às 17h