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    Rede de amigos guardou segredo sobre paradeiro de Belchior em Santa Cruz

    FERNANDA CANOFRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTA CRUZ DO SUL (RS)

    30/04/2017 18h52 - Atualizado às 23h54

    A notícia de que o cantor Belchior estava vivendo em Santa Cruz do Sul pegou de surpresa a cidade de 126 mil habitantes. Nem os vizinhos da casa clara de dois andares conheciam quem a habitava.

    A rede de amigos dele e de sua mulher, Edna Prometeu, entrou em contato há alguns anos com conhecidos de Santa Cruz do Sul perguntando se eles poderiam receber temporariamente o casal, com a condição de guardar segredo sobre suas identidades.

    A escritora Celia Zingler, um dos primeiros contatos do casal na cidade, acredita que o que fez Belchior adotar Santa Cruz por mais tempo foi a forma como foi recebido.

    Adriana Franciosi
    Casa onde estava Belchior na rua dr Antônio correia da Silva em Santa Cruz do Sul. Foto Adriana Franciosi
    Casa onde Belchior vivia em Santa Cruz do Sul

    "Ele foi muito acolhido aqui. Outros amigos nos procuraram porque estavam preocupados com eles, pedindo se poderíamos recebê-los e ajudar a manter a privacidade", diz ela. "Eram eles que nos contatavam; quando eles não queria ser encontrados, a gente não sabia por onde andavam", completa.

    A dona de casa Malu Muller conheceu-os por Zingler.

    Há dois anos, o casal ficou hospedado por 20 dias na casa dela. "Era uma pessoa incrível, maravilhosa, estava sempre bem-humorado. Ele acordava de manhã já dando beijo na gente", lembra ela.

    Quando o casal deixou por um tempo Santa Cruz, perdeu o contato com eles. Apenas no final do ano passado voltaram a se encontrar, depois que esbarrou com Edna Prometeu no centro da cidade.

    Passou a visitá-los na casa do bairro Santo Inácio, de onde o cantor pouco saía, evitando até se aproximar das janelas para não ser visto. Preocupado com a saúde, ele fazia exercícios à beira da piscina e saía para caminhar, sempre em horários estratégicos.

    "Minha filha se surpreendeu hoje de manhã e disse: 'Mãe, como tu nunca me contou que visitava o Belchior aqui?'", conta Muller.

    Muller diz, ainda, que Belchior planejava uma volta aos palcos. Ela emprestou ao músico um violão que tinha em casa e afirma que todo o tempo em que esteve "sumido", ele nunca deixou de compor.

    Arquivo Pessoal
    Belchior com companheira Edna Prometeu e a amiga no centro Malu Müller em um jantar em Santa Cruz do Sul. Foto: Acervo pessoal ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Belchior com companheira Edna Prometeu (dir.) e a amiga Malu Muller (centro) em um jantar

    Segundo a amiga, Belchior considerava ir a Florianópolis ainda em abril, onde tinha amigos que iriam ajudá-lo "a começar de novo".

    "Ele estava preocupado com a situação política do Brasil, com o golpe, sentia que estava na hora de voltar. Dizia que não podia ficar se escondendo em um momento assim", conta.

    Política, diz, era uma preocupação constante para ele e um dos assuntos recorrentes nos jantares em que tinha com amigos, em casa.

    Mesmo nesses encontros, Belchior nunca cantava. Os assuntos que debatia com os amigos abarcavam ainda viagens, cultura e filosofia, um de seus temas prediletos. Muller conta que ele também desenhava muito, um hábito antigo, mas nunca mostrou os desenhos.

    As amigas ainda não sabem qual será o destino do trabalho que Belchior tocava. Elas não chegaram a conhecer as músicas que ele estava compondo, mas acreditam que política voltaria a ser sua voz.

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