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    análise

    Roteiristas podem fazer greve à espera de sua parte nas mudanças

    BETO SKUBS
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    01/05/2017 02h05

    Chris Pizzello-9.nov.2007/Reuters
    FILE PHOTO: Thousands of Writers Guild of America members and supporters hold signs during a large strike outside the Fox studio lot along the Avenue of the Stars in Los Angeles, California, U.S., on November 9, 2007. REUTERS/Chris Pizzello/File Photo ORG XMIT: HFS-LUC01 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Roteiristas protestam do lado de fora da Fox em Los Angeles, durante a greve de 2007

    Na última segunda, a WGA (Writers Guild of America, ou Sindicato dos Roteiristas dos EUA) anunciou que 96% dos seus membros votou "sim" no pedido de autorização de greve feito pela liderança. Como roteirista e membro da WGA, eu fui um deles.

    Mas por que nós estamos unidos em torno da possibilidade de greve, e como isso vai afetar a vida dos espectadores ao redor do mundo?

    A WGA é o órgão que negocia o contrato entre os roteiristas e a AMPTP (Associação dos Produtores de Cinema e TV), que representa os grandes estúdios de Hollywood.

    Esse contrato é renovado a cada três anos —o atual vence nesta segunda (1º)— e estabelece pisos e direitos básicos.

    Às vezes, as negociações se complicam; as fórmulas de pagamento se tornam obsoletas conforme os mercados mudam. Em 2007, ano da última greve, que durou cem dias, a grande briga foi pela jurisdição sobre internet, que na época não representava muito, mas hoje responde por 15% dos empregos de roteiristas.

    Apesar do crescimento no setor de TV, os salários médios dos roteiristas têm caído.

    A maioria recebe por episódio produzido ou por semana. Antes eram comuns temporadas de séries com mais de 20 episódios, mas hoje, na TV paga e no Netflix, muitas têm 13 episódios ou menos.

    Os roteiristas trabalham quase tanto tempo nelas quanto numa série de 24 episódios, e a maioria sob contrato de exclusividade. Assim, ficam presos a suas séries mesmo enquanto não trabalham nelas, sem receber.

    O outro grande ponto está nas contribuições dos estúdios ao plano de saúde da WGA.

    Com o aumento dos custos médicos e a diminuição nos salários, o fundo da WGA destinado à saúde encolheu, e ela quer um ligeiro aumento nas contribuições dos estúdios.

    A WGA quer ainda uma atualização nos salários-base e em fórmulas dos resíduos relativos a exibições na internet.

    O que se pede, no total, corresponde a um terço de 1% dos lucros dos estúdios no último ano. O salário dos seis executivos mais bem pagos dos estúdios no ano passado é maior que o valor que a WGA pede para seus 12 mil membros nos próximos três anos.

    Mas vai ter greve? E se tiver, o que acontece? Difícil dizer. O que se sabe é que seria terrível para os roteiristas e para e economia de Los Angeles —estima-se que na greve de 2007 tenham chegado a US$ 2 bilhões os prejuízos das paralisações, que afetam também o setor de serviços. Aí reside a esperança da WGA de obter um acordo razoável.

    Caso a greve seja confirmada, todos os roteiristas devem parar prontamente.

    Séries cujas próximas temporadas estejam prontas, como "Game of Thrones", não sofrem efeitos imediatos.

    Já as que estão em produção, sim —mesmo as que já têm roteiro escrito, uma vez que muitos roteiristas também são produtores e supervisionam filmagens e pós-produção. Séries, como "The Walking Dead", e programas de comédia, como o "Saturday Night Live", seriam afetados.

    Boa parte da WGA acredita no bom senso da associação de produtores para evitar a greve. Outros temem que os estúdios se neguem a um acordo para não criar precedentes, o que não é incomum.

    Todos porém desejam que a situação seja resolvida sem greve, para evitar prejuízos financeiros e pessoais —além de garantir que espectadores possam ver suas séries favoritas, que não existiriam sem o trabalho de seus criadores.

    BETO SKUBS é roteirista de cinema, TV e HQ e divide-se entre Brasil e EUA.

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