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    Moda

    Campanhas com sexo explícito e nudez definem 'nova era erótica' na moda

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    02/05/2017 02h22

    Em uma cena a garota masturba a parceira de pernas abertas para a câmera. Em outra, um homem penetra a mulher, deitada na cama amassada. Uma terceira foto mostra o astro do pornô Colby Keller trajado apenas com botas e paletó, oferecendo o pênis descoberto.

    As imagens poderiam ilustrar qualquer site pornográfico, mas estão acessíveis, sem classificação indicativa, na última campanha da grife americana Eckhaus Latta e na passada da estilista Vivienne Westwood, respectivamente.

    Se os primeiros anos deste século foram marcados pela erotização da imagem feminina, como as campanhas da Dolce & Gabbana, da Sisley e da Calvin Klein, que ora pareciam estupros coletivos, ora mostravam a mulher servindo aos desejos ocultos do espectador, a segunda década do milênio confirma o ato sexual e o corpo nu como ferramentas de persuasão para vender roupas e ideias.

    O slogan "sexo vende" nunca saiu de moda, mas, segundo especialistas, evoluiu para uma roupagem despudorada e crua –uma "nova era erótica" que é fruto da banalização do sexo e do movimento de aproximação entre a imagem publicitária e a vida real, sem filtros ou Photoshop.

    "As pessoas passaram a não comprar mais produtos, mas sim experiências. Como o mercado está saturado de filtros, retoques e comunicação perfeitinha, algumas marcas perceberam que é preciso falar de emoções primais, como o sexo. É uma volta da espontaneidade, que descabela a comunicação de moda", diz a diretora do birô de tendências PeclersParis, Iza Dezon.

    Segundo a especialista, a corrente faz parte de um momento histórico de desestabilização de tabus, "aqueles de que todo mundo falava, mas não mostrava", que os jovens querem banir.

    Bom exemplo é a própria Calvin Klein. Até pouco tempo atrás, a marca usava corpos perfeitos para vender sua linha de cuecas e lingerie. Agora, entre as últimas peças publicitárias da marca há uma em que modelos magros, seminus e sem músculo aparentes se abraçam em uma galeria de arte.

    Em outra peça, os atores Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Mahershala Ali e Trevante Rhodes, de "Moonlight", mostram o corpo em raro manifesto publicitário pró-diversidade. O longa, vencedor do Oscar de melhor filme deste ano, trata de homossexualidade e racismo.

    SEXO REAL

    A estética documental, quase amadora, define as novas campanhas que lançam mão do sexo como expressão. NesSe contexto, sites pornográficos e aplicativos de encontros viraram pontes entre marcas e público-alvo.

    No ano passado, a Diesel passou a veicular suas propagandas lascivas no site pornô Pornhub. De acordo com o dono da marca, o italiano Renzo Rosso, as vendas tiveram incremento de 31% após o início da ação.

    O estilista JW Anderson, uma das revelações da moda mundial, também surfou na onda. Seu desfile de verão 2016 na semana de moda de Londres foi transmitido ao vivo pelo aplicativo de encontros Grindr, direcionado ao público gay.

    "As pessoas falam muito mais sobre o que fazem e o que querem fazer, com uma naturalidade que não havia antes, nem na revolução sexual dos anos 1970", afirma o diretor para América Latina do birô de tendências francês Nelly Rodi, Evilásio Miranda.

    Na quinta-feira (4), ele dará uma palestra sobre o "novo sensual" na Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, em São Paulo. Fetiche e erotismo explícito estão na pauta do encontro, que custa R$ 250 e tem inscrições abertas.

    Para Miranda, "as imagens da moda ficaram tão plásticas que tiraram o tesão do consumidor. Quando o sexo se torna tão acessível como é hoje, o protagonismo passa a ser de gente comum, que não idealiza peitos siliconados, depilação impecável e pênis de 22 cm. As pessoas estão cansadas disso."

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