• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 08:15:37 -03

    Clássico de William Golding, 'Senhor das Moscas' ganha versão teatral

    MARIANA MARINHO
    DE SÃO PAULO

    05/05/2017 02h04

    Na primeira imagem do espetáculo "Senhor das Moscas", 12 garotos ingleses aparecem enfileirados e estáticos cantando "Gaudete", uma música em latim de coral. Aos poucos, a atmosfera asséptica, quase sacra, construída neste instante, vai dando lugar a uma energia oposta, mais abrupta e selvagem.

    É este contraponto entre civilização e barbárie que norteia o eixo central da peça, uma adaptação para os palcos escrita por Nigel Williams a partir do romance homônimo do inglês William Golding (1911-1993).

    Publicado em 1954, o livro é um clássico do pós-guerra ao lado de títulos como "A Revolução dos Bichos" (1945), do escritor George Orwell.

    Na história, meninos ficam presos em uma ilha após a queda do avião que os transportava para longe do conflito. Ali, sem serem supervisionados, eles buscam se organizar para tentar sobreviver.

    "Ao ler o romance, lembro de ter uma sensação de esperança pensando que algum modelo diferente de sociedade poderia surgir da interação entre essas crianças", comenta Zé Henrique de Paula, do Núcleo Experimental, que assina a direção da montagem. Ao lado de Fernanda Maia, responsável pela direção musical, a dupla leva ao Teatro do Sesi uma versão da trama de Golding musicada e destinada ao público jovem.

    Além de conter no repertório canções de coral em latim e francês, o espetáculo tem uma música original composta por Maia e cantada pelo ator Bruno Fagundes.

    "Ela é um rito de passagem da infância para a idade adulta. O personagem começa a ter consciência da maldade e percebe que o bem e o mal não estão tão separados", afirma a diretora musical.

    O "BICHO"

    Fagundes interpreta Ralph, espécie de líder democrático cuja conduta em relação ao que é prioridade para a sobrevivência do grupo na ilha choca-se com a visão de Jack, personagem de Ghilherme Lobo. Ralph quer construir abrigos e deixar uma fogueira acessa para que eles possam ser resgatados, Jack preocupa-se em caçar porcos e o "Bicho", uma figura desconhecida que os assombra de diferentes formas.

    "Jack acaba instigando o medo nos outros para que eles aceitem sua liderança. Algo semelhante ao mecanismo do fascismo", diz Zé Henrique.

    Ficam entre os líderes personagens como Porquinho (Felipe Hintze), um garoto gordo que sofre bullying dos colegas, mas não deixa de ser o mais sensato entre eles, e Simon (Thalles Cabral), o sensível da turma, que chega a questionar a existência física do "Bicho": "engraçado vocês pensarem que ele é algo que vocês possam matar e caçar", diz.

    "Ao enfrentarem elementos externos nesta ilha, estes garotos vão ao encontro do que eles realmente são", diz Zé Henrique. "Há um pouco de cada um deles em nossa essência, mas temos em nós, principalmente, um 'Bicho'. O que faremos com ele é uma das principais questões que a peça levanta", completa.

    *

    SENHOR DAS MOSCAS
    QUANDO até 3/12 (qui. a sáb.: às 15h. dom.: às 14h30. 90 min. 14 anos)
    ONDE Teatro do Sesi-SP - av. Paulista, 1.313, tel. 3143-7439
    QUANTO grátis

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Felipe Hintze, um dos 12 meninos do elenco, interpreta Porquinho, que sofre bullying
    Felipe Hintze, um dos 12 meninos do elenco, interpreta Porquinho, que sofre bullying
    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024