Há coisas que unem três boas novidades da TV brasileira nos últimos 30 dias: o horário tardio, o amparo em preceitos do jornalismo, o uso do humor, a busca por rejuvenescer o público-alvo.

Mas "Lady Night", "Conversa com Bial" e "Greg News" são programas de personalidades tão díspares como o são seus apresentadores -a humorista Tatá Werneck, o jornalista-poeta Pedro Bial e o ator Gregorio Duvivier, colunista da Folha.

	Gianne Carvalho/Divulgação
	A cantora Anitta (à esquerda) é uma das convidadas do 'Lady Night', de Tatá Werneck

Por força do tamanho da emissora onde está há mais de três décadas e talvez de sua geração, Bial, 59, que estreou seu talk-show na terça passada (2), é o que mais se apega ao formato tradicional.

Mesmo assim, seu "Conversa com Bial", que substitui o programa de Jô Soares na Globo, oferece refresco não só ao formato como à própria imagem do jornalista, que antes de ser apresentador do cansativo "Big Brother" e do "Fantástico" teve uma encarnação como repórter de primeira linha.

É essa faceta que ele retoma no programa, que na primeira semana se destacou pela lista irreprovável, em termos noticiosos, de convidados: a ministra Carmem Lúcia, do STF, o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica, a roqueira Rita Lee, a ginasta Laís de Souza. Todo mundo tinha o que dizer, e Bial -como notou o colega Nelson de Sá- soube ouvir.

Faz diferença, assim como o repertório do apresentador (algo que ele frisou ao repetir trechos de uma entrevista sua com Rita Lee em 1985 antes de chamá-la ao palco.

	Reprodução/TV Globo
	Pedro Bial entrevista a ministra Carmen Lúcia no programa 'Conversas'

O formato ainda precisa de correções. A ideia de chamar convidados ao palco para completar a entrevista gravada com Mujica, por exemplo, foi infeliz, tirando tempo do entrevistado para ouvirmos comentários inócuos.
De ajustes também precisa ainda o "Greg News", que Duvivier, 31, estreou na sexta (5).

Calcado no programa do britânico John Oliver na mesma HBO que o leva ao ar, o cofundador do "Porta dos Fundos" ainda precisa ficar à vontade com o texto jornalístico como fica com as piadas.
A ideia é fazer "comédia noticiosa": apresentar o noticiário com sarcasmo.

Politizado e mais crítico, é diferente do "Furo MTV" (2009-2013), estando mais próximo em forma e ambição do que o ator e comediante Jon Stewart fez em seu "Daily Show" de 1999 a 2015 e que se tornou a principal fonte de informação política de adolescentes e jovens adultos nos EUA na última década.

A estreia teve overdose de Duvivier (o apresentador chegou a falar por 17 minutos seguidos, dos 30 do programa, até entrar o primeiro clipe noticioso), e é preciso melhorar a edição para ganhar agilidade. Falta reportagem, e, por ora, não há plano de entrevistas, a não ser que a pauta da semana assim peça.

	Bruno Poletti/Folhapress
	Gregorio Duvivier, que apresenta o 'Greg News', da HBO

O texto, contudo, é excelente, Duvivier tem timing perfeito e não faltou acidez com nenhum lado do espectro político (o âncora se identifica com a esquerda). O formato chega com atraso ao Brasil, mas chega bem.
Finalmente, há Tatá, 33, uma força da natureza, que estreou o "Lady Night" no Multishow dia 10, e pouco importa quem são os convidados ou o que ela pergunta.

Tatá é a antítese da ideia do ensaísta britânico Christopher Hitchens de que mulher não sabe fazer humor. Ela faz gargalhar, seja pedindo à cantora Paula Fernandes que lace um membro da equipe, seja constrangendo um físico nuclear com perguntas sugestivas no genial quadro "Entrevista com o especialista".

Talvez Tatá não tenha as expectativas que Bial e Duvivier têm para preencher por causa de seus antecessores. É ela, porém, que tem as maiores barreiras para derrubar.

NA TV
Greg News
Quando às sextas, às 22h, na HBO

Conversa com Bial
Quando de seg. a sex., depois do "Jornal da Globo"

Lady Night
Quando seg. a sex., às 22h30, no Multishow