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    Virada em Guarulhos quer artistas que façam shows sem cachê

    THALITA MONTE SANTO
    JESSICA SOUZA
    DA AGÊNCIA MURAL

    09/05/2017 02h08

    Eduardo Anizelli - 16.jul.2015/Folhapress
    A cantora Daniela Mercury, em São Paulo
    A cantora Daniela Mercury, em São Paulo

    A primeira edição da Virada Cultural Paulista em Guarulhos, marcada para sábado (13) e domingo (14), gerou revolta entre os artistas das região. A prefeitura quer que eles se apresentem sem receber cachê pela participação.

    O evento também terá nomes conhecidos, como Daniela Mercury e as bandas Dona Zaíra e Francisco El Hombre, que terão seus shows pagos pelo governo estadual. Já o edital de chamamento para os artistas regionais prevê "participações voluntárias".

    Cerca de 200 representantes culturais escreveram um manifesto contra o chamamento da prefeitura, no qual informam que não irão participar da Virada Cultural por considerarem a proposta desrespeitosa com a classe artística guarulhense.

    "Me senti extremamente desrespeitada pela palavra 'voluntário' e também porque há uma cláusula na qual o artista autoriza a sua imagem para a divulgação dos eventos. Então, vai além de não reconhecer o trabalho do artista e não pagar o cachê", afirma a atriz e cineasta Janaína Reis, 28.

    Para o produtor cultural Leandro Santos Domingos, 35, que atua há 11 anos na cidade, esse reconhecimento "não existe", e isso vem desde outras administrações. "Na outra gestão a valorização dos coletivos e artistas da cidade não foi pauta. E, pelo visto, nesta gestão também não será". A cidade foi comandada de 2001 a 2016 pelo PT e agora é administrada por Gustavo Costa, o Guti (PSB).

    No manifesto, os artistas afirmam que não são contrários ao evento ou ao artistas contratados para a Virada, mas à forma como a prefeitura a organiza.

    Ele cita, ainda, o projeto de lei municipal 1.176/17, em análise na Câmara dos Vereadores, que poderá prejudicar os artistas independentes. A proposta determina a cobrança do uso dos espaços públicos para realizações de eventos que geram impacto à livre circulação viária. Se aprovado, os artistas terão de pagar taxas para se apresentar nas ruas.

    "Acho um absurdo cobrar o artista que manifesta sua arte de graça ou às vezes faz da sua arte de rua seu ganha-pão. Sem falar que isso implica no direito de se expressar e mostrar, para quem estiver interessado, algo que seria visto apenas num palco ou nas mídias sociais", diz o músico João Ferreira, 33.

    A Prefeitura de Guarulhos informou que 400 artistas se cadastraram para participar voluntariamente do evento, e que a ausência de cachê se deve à falta de caixa: a cidade tem dívida de R$ 7,5 bilhões.

    A gestão Guti diz ainda que "compreende a extrema necessidade da inauguração de uma política de cachês artísticos e já realiza um estudo orçamentário para, dentro das possibilidades, realizá-la num futuro próximo".

    Sobre o direito de uso de imagem dos artistas que toparem se apresentar voluntariamente, a prefeitura diz que trata-se de um "procedimento padrão".

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