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    Ernesto Neto leva índios à Bienal de Veneza para fazer dança da jiboia

    SILAS MARTÍ
    ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

    10/05/2017 14h38

    Silas Martí/Folhapress
    Índios na Bienal de Veneza fazem dança da jiboia
    Índios na Bienal de Veneza fazem dança da jiboia

    No sol da primavera italiana, Ernesto Neto e um grupo de seis índios huni kuin, do Acre, fizeram na tarde desta quarta uma das performances mais aguardadas da Bienal de Veneza —a dança da jiboia.

    Neto, um dos artistas brasileiros mais relevantes no cenário mundial, discursou em inglês para um grupo de galeristas, colecionadores e críticos, o jet-set da arte que migra para a cidade dos canais a cada dois anos, dizendo que não dançaria para uma plateia. "É uma ação coletiva."

    Então, todos deram as mãos, ensaiaram cantos e saíram em trenzinho —ou jiboia— serpenteando entre os pavilhões espalhados pelos Giardini. O ato durou menos de meia hora, mas causou alvoroço entre fotógrafos e VIPs que dão a primeira passada de olhos na exposição que abre para o público neste sábado.

    "Jiboia é a serpente do arco-íris. A gente está trazendo aqui uma sabedoria que está dentro da gente", dizia Neto, momentos antes da performance, na enorme tenda de crochê que montou como sua obra no Arsenale. "Estou aqui trazendo a força da arte, e os índios estão trazendo a força da floresta. A arte deles é para trazer força e conexão, porque o sagrado para eles está em todo lugar, nas coisas vivas. Eles são todos artistas."

    Não é a primeira vez que Neto viaja com os huni kuin, uma tribo do Acre. Eles já participaram de ações na Espanha, na Áustria e na Dinamarca, mas a Bienal de Veneza, onde Neto é um dos quatro brasileiros escalados para a mostra principal, é até agora sua principal vitrine.

    Enquanto na superfície esse é um trabalho de aspecto lúdico, Neto reconhece a tensão política por trás do trabalho num momento de violência que recrudesce contra povos indígenas no Brasil, além de planos políticos que podem tirar seus direitos. "Estão querendo acabar com as árvores, transformar a floresta em plantação de soja, lugar de boi", afirma Neto.

    Um dos integrantes de sua comitiva, Ni Nawa, também comenta o assunto. "A vontade era botar um quadro aqui dizendo tudo que está acontecendo no Brasil", ele diz. "Mas, como não dava para fazer isso aqui, a gente mostra nossa espiritualidade."

    Silas Martí/Folhapress
    Ernesto Neto leva índios à Bienal de Veneza
    Ernesto Neto leva índios à Bienal de Veneza

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