Uma voz canta "De Tanto Amor" num estúdio cuja única janela mostra o largo do Paissandu, na região central paulistana. De repente, a voz cessa por uns segundos, antes de tornar a soar, mas desta vez falando.

"A Sharon Stone diz que uma mulher não pode fazer nada sem batom." Claudette Soares, 80, havia parado o ensaio para se empetecar.

A cantora, em atividade há sete décadas, estreia no sábado (13), um projeto em que interpreta 20 músicas que nunca havia cantado –contra só uma que havia feito parte de um repertório ali, outro aqui.

"É o sonho da minha vida", diz ela, já de boca carmim e ensaio concluído. Ainda haveriam mais alguns até a estreia do show, Todas as letras devem estar na ponta da língua e na superfície da memória. "É insuportavelmente ridículo entrar no palco com folha na mão e óculos da vovó no nariz. Eu me recuso."

Até porque o projeto "A Noite do Meu Bem" é baseado no livro de mesmo nome, em que Ruy Castro narra a história do samba-canção no Brasil. Uma história que Claudette viu de perto ("eu canto desde meus dez anos, nunca fiz e nunca quis fazer outra coisa").

A Noite Do Meu Bem

Ruy Castro

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Castro não só abençoou o projeto como também serviu como consultor de repertório, apontando as músicas que considerava incontornáveis.

O show, no Sesc Pompeia, será dividido em duas partes: a primeira composta por sambas-canções e a segunda, por artistas que foram diretamente influenciados por essa geração, caso de Chico Buarque e de Angela Ro Ro, explica o produtor e diretor do projeto, Thiago Marques Luiz. "Depois do show faremos um especial para a TV com esse material", diz Luiz.

BIEBER NÃO!

Miúda ("aqui é 1,5 m para baixo"), ela diz que seu tipo físico influenciou no repertório por muitos anos."As pessoas achavam que eu tinha voz infantil, só me davam coisa fofa." Fez sucesso nos rádios e nos festivais, onde ganhou o apelido Princesinha do Baião. "Mas o tempo deixou eu cantar outras coisas. O que eu quisesse."

O tempo e seu talento para encontrar pianistas e maestros prodigiosos com quem trabalhou. Com Cesar Camargo Mariano trabalhou em dez discos. Cantou arranjos de Tom Jobim e Ronaldo Bôscoli.

Alaíde Costa participará do show, cantando Johnny Alf.

Dick Farney, sua dupla profissional mais marcante, será homenageado com "Perdido de Amor". "Eu sou só 20%; 80% são os músicos que estão atrás de mim", diz ela.

O dono do estúdio, que também é pianista, diz que não se lembra da última vez que ouviu da voz de uma cantora tamanho reconhecimento.

Claudette também reconhece quem veio depois, e diz passar boa parte do seu tempo conhecendo o pop corrente. "Adoro o Justin Bieber. Bieber não, Timberlake! Ele é muito sensual."

Ela mesma acredita ter tido qualidades de uma diva pop. "Eu era a Anitta nos anos 1970, shortinho e tudo." Desde lá, diz ela, a maior mudança foi que não consegue mais sentar no tampo do piano enquanto canta. O próprio Castro costuma dizer que a vida não deve nada a Claudette Soares. Ela concorda? "Vou responder no show."

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CLAUDETTE SOARES
QUANDO: sáb., 13/5, às 21h30
ONDE: Choperia do Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO: R$ 9 a R$ 30