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    Moacyr Scliar estudou porões do judaísmo, diz crítico literário

    DE SÃO PAULO

    15/05/2017 02h01

    Moacyr Scliar (1937-2011) teria feito 80 anos no dia 23 de março último. Como parte das comemorações da data, um debate na quinta (11) reuniu em São Paulo os críticos literários Berta Waldman e Saul Kirschbaum e o jornalista da Folha Maurício Meireles.

    No encontro, na Livraria da Vila nos Jardins, Kirschbaum disse que o escritor gaúcho fez um "passeio pelos porões do judaísmo", ao abordar "situações constrangedoras". O gancho era o conto "A Balada do Falso Messias", de 1976.

    "São os expostos o misticismo e a credulidade das massas judaicas, tantas vezes levadas à condição de desespero, que as tornavam vítimas fáceis dos chamados falsos messias", diz Kirschbaum, doutor em língua hebraica, literatura e cultura judaica pela USP.

    Neco Varella/Folhapress
    Porto Alegre, RS, Brasil - 16//09/2010: O escritor e mdico, Moacyr Scliar na sua casa em Porto Alegre.ILUSTRADA.(Foto: Neco Varella/Folha Imagem)
    O escritor Moacyr Scliar na sua casa em Porto Alegre

    Um dos personagens é Shabtai Zvi, que jura ser o messias e termina seus dias em uma mesa de bar, transformando o vinho em água –ao contrário do que, diz a Bíblia, Jesus fez.

    Foi lançado no evento em SP "A Nossa Frágil Condição Humana" (Companhia das Letras), que reúne crônicas de temática judaica do autor.

    Scliar teve forte atuação na imprensa e, nas páginas da Folha, assinou uma coluna durante quase 30 anos.

    Kirschbaum também disse ver essa visita "aos porões" nos textos do livro. E citou uma em particular, de 1982, na qual Scliar dizia que o Holocausto havia virado um "poderoso instrumento de mobilização da paranoia e, indiretamente, de manutenção do poder".

    A crítica literária Berta Waldman destacou crônicas sobre a política israelense. Para ela, o autor refletiu sobre o judeu nacional –que vive em Israel– e aqueles em diáspora.

    "Nações se concebem como estruturas de camaradagem horizontal. Daí nasce o 'nós' coletivo, num laço entre o judaísmo diaspórico e o nacional, relações em tudo distintas." Os textos dele ressaltam pontos em comum, diz ela.

    RISOS

    Judith Scliar, viúva do autor, já havia arrancado risos da plateia antes do debate, ao contar histórias dele. E lembrou que, muito pequeno, ele escreveu sua autobiografia –àquela época, sua vida era tão breve que o fez num saco de pão.

    Recordou ainda um concurso literário, o primeiro vencido pelo autor. Quando ele apareceu para reclamar o prêmio, foi informado de que devia escolher um sapato de uma loja.

    A Nossa Frágil Condição Humana
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    "Para o Moacyr, escrever era quase como respirar", disse ela, contando que o marido escrevia o tempo inteiro.

    As comemorações dos 80 anos continuam em Porto Alegre, no próximo dia 26, com o evento "Scliar a 4 Vozes".

    Às 19h30, sobem ao palco do teatro do Centro Histórico Cultural da Santa Casa (Scliar era também médico) Luis Fernando Veríssimo, Ignácio de Loyola Brandão, Zuenir Ventura e Antônio Torres.

    Os ingressos custam R$ 20 e estão à venda na internet no endereço bit.ly/2pJPYnG.

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