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    Festival de Cannes começa com filme francês 'embrulhado em bacon falso'

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES

    17/05/2017 09h33

    Divulgação
    Marion Cotillard e Charlotte Gainsbourg em cena de 'Les Fantômes d'Ismaël', de Arnaud Desplechin, que abriu a 70ª edição do Festival de Cannes
    Marion Cotillard e Charlotte Gainsbourg em cena de 'Les Fantômes d'Ismaël', de Arnaud Desplechin

    Numa safra com poucos nomões americanos —nada de um Woody Allen ou de um Spielberg, como no ano passado— a 70ª edição do Festival de Cannes´ abriu sua programação nesta quarta (17) abraçando a francofilia. A recepção foi para lá de morna.

    "Les Fantômes D'Ismael" (os fantasmas de Ismael), de Arnaud Desplechin, tem como maior atrativo um elenco repleto de medalhões do primeiro time francês: Marion Cotillard, Mathieu Amalric, Louis Garrel e Charlotte Gainsbourg —que, embora inglesa de nascença, carrega o sobrenome do pai, o francesíssimo Serge Gainsbourg. Um roteiro sem brilho e um final frustrante, contudo, comprometeram a recepção.

    Na entrevista coletiva seguinte à apresentação do filme, uma jornalista do Kuwait fez a pergunta impertinente que estava entalada: Por que não abrir a programação com um longa como a cinebiografia "Redoutable", de Michel Hazanavicius, que faz parte da competição e tem Garrel no papel do cineasta Jean-Luc Godard? Teria ao menos soado como uma homenagem à produção francesa numa data que é redonda.

    A organização não respondeu.

    Os fantasmas do filme de Desplechin são as assombrações do passado do personagem-título, vivido por Amalric, um cineasta tresloucado que recebe a visita de Carlotta (Cotillard), a ex-mulher que era tida como desaparecida. Gainsbourg vive a atual companheira de Ismael. E Garrel faz Ivan, personagem principal do thriller de espionagem cujo roteiro o protagonista está escrevendo.

    "Não pensei em fazer um filme por causa das estrelas que há nele", disse Desplechin, de "Reis e Rainha" (2004) e "Um Conto de Natal" (2008). Em seguida, enumerou as razões pelas quais havia escalado os seus atores: Amalric, porque "era a pessoa perfeita para um tipo doido"; Cotillard, "pela capacidade de se reinventar"; e Gainsbourg, porque "aceita escândalos".

    Na entrevista coletiva em que boa parte dos jornalistas parecia mais preocupada em tirar a foto perfeita dos atores sentados à mesa do que em elaborar perguntas, Louis Garrel demonstrava cara de enfado e dava baforadas no cigarro eletrônico, um pouco clichê de si mesmo.

    "Sem cabelo eu não sou nada", disse o ator sobre o seu personagem, que tem a cabeça raspada no filme. No dia anterior, a reportagem deparou com Garrel numa calçada de Cannes —com blazer amarrotado e um copo de bebida nas mãos, entrava em uma Mercedes com motorista.

    Marion Cotillard falou sobre o trabalho com Charlotte Gainsbourg. "Ela me fez querer ser atriz", disse e pausou, arregalando os olhos. "Foi um pouco intimidador no começo, mas foi ótimo".

    Em cena, Marion chora no chuveiro e dança ao som de "It Ain't Me Babe", de Bob Dylan. Aparece um tanto viva para uma personagem "fantasma".

    Desplechin diz que não costuma ler o que a imprensa escreve a respeito de seus filmes —jornalistas franceses, disse, tendem a ser particularmente duros. Caso lesse, poderia ter uma indigestão com a comparação gastronômica feita pela revista "Variety":

    "Se 'Les Fantômes D'Ismael' fosse uma refeição, seria um enorme naco sem gosto de uma alternativa de carne embrulhada em bacon falso, cozinhado em margarina e recoberto por uma imitação de queijo sem lactose".

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes

    Festival de Cannes 2017

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