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    Filme brasileiro estreia em Cannes em sessão lotada

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES

    21/05/2017 12h26

    Divulgação
    O ator João Pedro Zappa interpreta Gabriel Buchmann em 'Gabriel e a Montanha
    O ator João Pedro Zappa interpreta Gabriel Buchmann em 'Gabriel e a Montanha'

    Único longa brasileiro em Cannes neste ano, "Gabriel e a Montanha", do carioca Fellipe Gamarano Barbosa, estreou em sessão lotada na Semana da Crítica, seção do festival europeu paralela à competição principal, na manhã deste domingo (21).

    João Pedro Zappa (de "Boa Sorte") dá vida a Gabriel Buchmann, brasileiro que morreu de hipotermia aos 29 anos tentando escalar um monte no Malaui em 2009.

    O longa já abre com a cena em que o corpo é encontrado e recua aos dias precedentes, com Buchmann viajando pelo leste da África como um mochileiro "roots" (de raiz), como ele mesmo se descreve.

    No começo, a trama deixa em aberto o que faz aquele brasileiro vestido como um africano, comendo a mesma comida que os locais e pernoitando na casa deles, num canto remoto.

    O conteúdo dos e-mails que ele mandava ao Brasil, lidos em "off", e a chegada da namorada, vivida por Caroline Abras, dão pistas de suas origens: ele é um jovem economista, vindo de família abastada, que não quer entender a miséria de forma acadêmica, quer experimentá-la.

    "Ele era um personagem contraditório, não tinha um grande objetivo, mas uma série de pequenos objetivos", diz o diretor à Folha. "Ele queria ser visto como um local, mas também queria conhecer o lado turístico daquilo tudo."

    Barbosa era amigo do verdadeiro Buchmann, com quem estudou no Rio. Para rodar o filme, fez duas viagens refazendo o caminho do ex-colega e coletando depoimentos dos africanos que o haviam acolhido em seus últimos dias. Em torno de dez desses locais –guias, anfitriões, motoristas de safari etc– reencenam o contato que tiveram com o brasileiro atuando como si mesmos em cena com Zappa.

    O diretor explica por que optou por abordar a história do amigo num filme de ficção, e não num documentário puro. "Porque era uma forma de tê-lo vivo e de dobrar o tempo, com passado e presente ao mesmo tempo", responde. Disso resultam interações que pintam um retrato bem empático do personagem.

    A busca pelo contato humano é o que distingue Buchmann do protagonista de "Na Natureza Selvagem", outra história de um viajante solitário e trajetória malfadada.

    "Eles são o oposto", diz Zappa à reportagem, logo após a exibição do filme. "O Gabriel não queria se isolar, não queria perder tudo o que tinha."

    Lotada, a sessão em que o filme foi exibido contou com a mãe de Buchmann na plateia e colegas de escola seus e do diretor.

    Neste ano o júri da Semana é presidido pelo também brasileiro Kleber Mendonça Filho, que em 2016 disputou na competição com "Aquarius".

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes

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