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    Benjamin Grosvenor retrata ao piano cenários imaginados em peças célebres

    AMANDA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    23/05/2017 02h06

    Descrito como um dos pianistas mais auspiciosos da atualidade, Benjamin Grosvenor não traz a São Paulo um repertório pretensioso, ao menos no que diz respeito a iluminar obras desconhecidas.

    Em sua primeira apresentação na cidade, nesta terça (23) e nesta quarta (24), ele mesmo adianta que não deve propiciar à maioria dos presentes nenhuma descoberta.

    O jovem britânico de 24 anos mostrará, então, um programa que deve servir a demonstrar sua aclamada habilidade sobre as teclas, como se elas fossem uma tela pronta para receber pinceladas.

    Operaomnia/Divulgação
    O pianista inglês Benjamin Grosvenor, que executa repertório com sonatas de Mozart e Beethoven, entre outras peças
    O pianista inglês Benjamin Grosvenor, que executa repertório com sonatas de Mozart e Beethoven

    A primeira metade da apresentação dará conta de duas sonatas do período clássico, contrastantes entre si. A leve e ensolarada nº 13 (K333), de Mozart (1756-1791), serve de contraponto à sombria e profunda "Sonata ao Luar", de Beethoven (1770-1827) –que, castigada por sua popularidade, é raramente executada.

    A expressividade do programa cresce ainda mais na metade seguinte.

    Grosvenor executa os lagos ao luar e tempestuosos mares de "Sonata Fantasia", do russo Alexander Scriabin (1872-1915), e duas das vibrantes "Goyescas", do espanhol Enrique Granados (1867-1916), inspiradas nas pinturas de Goya, de exóticos matizes aos olhos do inglês.

    Grosvenor reconhece que "há muitos ótimos músicos atualmente" –ele mesmo é tido como um destaque promissor da música clássica. Mas se admite nostálgico.

    "Acho fascinante e esclarecedor ouvir a gravações históricas, dos 'grandes velhos' dos teclados", diz, citando nomes como Alfred Cortot, Shura Cherkassky, Vladimir Horowitz e Guiomar Novaes.

    Apesar de enxergar "qualidades, estética e sensibilidade no trabalho desses artistas que têm sido mais raros desde suas épocas", Grosvenor acredita que o público não os veja da mesma maneira.

    "O que talvez seja mais preocupante é o encolhimento de audiências para esse tipo de música, pelo menos em algumas partes do mundo", diz.

    SOLIDÃO

    Apesar de ter despontado muito novo, Grosvenor não foi uma criança prodígio. Em parte, porque não tinha maturidade e não quis.

    "Minha mãe sempre me disse que eu comecei a praticar mais quando alguns amigos do colégio passaram a tocar, com medo de que eles me alcançassem", confessa.

    "Eu não me lembro desse instinto competitivo, mas acho que sou grato a ele, já que significou que eu rapidamente passei a [executar] um repertório mais difícil e satisfatório, e, a certo ponto, me apaixonei pela música".

    Antes, a mãe de Grosvenor, uma professora de piano que lhe ensinou o beabá do instrumento, havia tentado fomentar seu empenho em casa, sem sucesso, e chegou a enviá-lo a um internato para jovens músicos, aos 9 anos.

    "Logo percebi que não gosto de ficar longe da minha família", diz, citando sua ligação com Jonathan, o mais próximo em idade de seus quatro irmãos, que tem síndrome de Down.

    "Ele é, talvez, a pessoa mais feliz que eu conheço e é sempre inspirador ficar perto dele", diz. "Quando estou viajando, não consigo evitar sentir uma onda de carinho quando me deparo com alguém que tenha a mesma condição".

    Quando não está entre as pontes aéreas, Grosvenor mora em Londres, a cerca de 60 km do condado de Essex, onde a família vive.

    A distância, diz ele, é menos assustadora agora. "Acho que, como pianista, você já se acostuma a passar tempo sozinho, já que isso é necessário desde cedo para a prática."

    BENJAMIN GROSVENOR
    QUANDO ter. (23) e qua. (24), às 21h
    ONDE Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, tel. (11) 3256-0223
    QUANTO de R$ 50 a R$ 255
    CLASSIFICAÇÃO livre

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