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    Festival de Cannes 2017

    Filmes asiáticos equilibram brutalidade europeia em Cannes

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES

    23/05/2017 09h15 - Atualizado às 21h31

    Divulgação
    Cena do filme 'The Day After', de Hong Sang-soo, em competição na 70ª edição do Festival de Cannes
    Cena do filme 'The Day After', de Hong Sang-soo, em competição na 70ª edição do Festival de Cannes

    A brutalidade une boa parte dos títulos europeus em disputa no Festival de Cannes deste ano: ela aparece na violência psicológica de "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos, nas perversidades de "Happy End", do austríaco Michael Haneke, na crueza de "Loveless", do russo Andrey Zvyagintsev, e no humor negro de "The Square", do sueco Ruben Östlund.

    Coube aos asiáticos furar essa barreira com a comédia "The Day After", do sul-coreano Hong Sang-soo, e com o melodrama "Radiance", da japonesa Naomi Kawase.

    Em seu longa, Hong honra o apelido de "Éric Rohmer da Ásia": seu cinema é calcado em cenas longas, repletas de diálogos e pouquíssimas ações; menos trama, mais foco nas emoções dos personagens.

    "The Day After" (o dia seguinte) está ancorado numa trama farsesca. Um editor de livros mantém um caso extraconjugal com uma de suas assistentes. Ao descobrir a traição, sua mulher parte para a vingança, mas toma a nova assistente do marido erroneamente pela ex-amante.

    Aos 56 anos, Hong é um dos diretores mais prolíficos em atividade. Esteve na competição do último Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, com "On The Night at Beach Alone", que valeu o Urso de Prata à atriz Kim Min-hee, e três meses depois apresenta dois filmes em Cannes: o outro é "Claire's Camera", fora da disputa.

    O diretor explica por que é tão prolífico: começa a filmar sem muito planejamento, com uma breve ideia do que tem em mente, e em poucas locações e com poucas variações no uso da câmera.

    "Claire's Camera" é em muitos sentidos o oposto de "The Day After".

    A começar, porque mantém com a mostra europeia uma relação metalinguística: traz Isabelle Huppert no papel de uma professora que viaja à cidade de Cannes durante o festival de cinema e acaba se afeiçoando a uma executiva cinematográfica coreana.

    É também um filme mais solar, que se esbalda na luz mediterrânea da Riviera francesa, enquanto que "The Day After" é monocromático, sisudo.

    MELODRAMA JAPONÊS

    Luz —ou a falta dela– é um ingrediente central em "Radiance", da japonesa Naomi Kawase, o outro título asiático que faz frente à crueza dos longas europeus. O longa encerrou sua sessão de imprensa sob aplausos entusiasmados dos jornalistas.

    A diretora de "O Segredo das Águas" (2014) e "O Sabor da Vida" (2015) retorna a Cannes pela sétima vez, agora com a história do envolvimento entre uma mulher responsável por fazer a audiodescrição de filmes para espectadores cegos e um fotógrafo que está perdendo a visão.

    Kawase disse que pensou no mote do filme ao se dar conta do trabalho de audiodescritores em um outro filme seu. "Como eles têm de traduzir sentimentos para pessoas que não conseguem enxergar acabam adquirindo toda uma nova sensibilidade para perceber os filmes", disse.

    "Radiance" abre o leque de uma constante temática na obra de Kawase: as diferentes formas de comunicação. Com essa trama e personagens com essa condição, afirmou a diretora, "eu podia falar de amor ao cinema."

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes.

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    mondo cannes

    O EXTERMINADOR

    Arnold Schwarzenegger irritou profundamente o diretor John Cameron Mitchell (foto), de "How to Talk to Girls at Parties" na festa de lançamento do filme. "Ele viu o meu paletó vermelho, belíssimo, e me puxou com tudo", disse Mitchell à reportagem. "Depois, fez um selfie e me empurrou de novo. Nem sabia quem eu era."

    O ESCULTOR

    Na competição pela Palma de Ouro, "Rodin" teve a recepção mais gelada até agora: teve pouquíssimos aplausos entre as mais de 2.000 pessoas presentes na sessão. O filme é arrastado e convencional. Um jornalista ainda berrou, em espanhol: "Que cinema antiquado!".

    O VICE-PRESIDENTE

    Al Gore veio a Cannes exibir "An Inconvenient Sequel", sequência ao documentário ecológico "Uma Verdade Inconveniente" (2006), que ele apresenta. No discurso, o ex-vice presidente dos EUA disse: "Naquela época [em 2006] a questão parecia não ter solução. Agora tem".

    O VICE-PRESIDENTE 2

    ...Pudera. O novo filme é praticamente um merchand de uma hora e 40 minutos de duração empresas do Vale do Silício que desenvolvem energia solar. O próprio Gore vive da fortuna que arrecada como investidor dessas companhias.

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