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    Análise

    Mostra de Skolimowski é para quem não resiste a raridades

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    24/05/2017 02h13

    Divulgação
    A atriz Aleksandra Zawieruszanka em cena de 'Walkover', longa de 1964 dirigido e protagonizado por Jerzy Skolimowski
    Aleksandra Zawieruszanka em 'Walkover', longa de 1964 dirigido e protagonizado por Jerzy Skolimowski

    A projeção internacional de nomes como Wajda, Polanski e Kieslowski, ao mesmo tempo que afirmou a inventividade do cinema polonês lançou uma sombra sobre outros realizadores não menos importantes.

    A mostra O Cinema de Jerzy Skolimowski, em cartaz desta quarta (24) a 12 de junho no CCBB, reúne 19 títulos do diretor cuja indecisão, quando jovem, entre ser poeta ou lutar boxe se reflete no modo como filma conjugando lirismo e violência.

    Nascido em 1938, um ano antes da invasão da Polônia por Hitler, Skolimowski cresceu sob os ideais heroicos da resistência antinazista e antistalinista. Em vez disso, preferia se reunir com Polanski e outros em cemitérios para tocar e conversar sobre jazz.

    RECRIAÇÃO

    Quando começou a filmar, no início dos anos 1960, um impulso disseminado fazia acreditar na possibilidade de recriação do homem, do mundo e do cinema.

    Fatalismo e rebeldia são as marcas dessa visão, que o cineasta transpôs em dramas sobre uma "geração cínica, que ainda nutre anseios românticos enquanto busca se integrar", como se autodefine um personagem de "A Barreira" (1966).

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    Vincent Gallo em 'Essential Killing', de 2010, um dos mais recentes filmes de Skolimowski
    Vincent Gallo em 'Essential Killing', de 2010, um dos mais recentes filmes de Skolimowski

    Nos primeiros curtas, ainda ensaios juvenis, o humor absurdo predomina sobre a normalidade e revela uma originalidade impregnada por um espírito surrealista então influente.

    Os longas de estreia, "Marcas de Identificação: Nenhuma" (1962) e "Walkover" (1964), trazem Skolimowski na pele de um mesmo personagem, o jovem desobediente Andrzej Leszczyc, que, como tantos protagonistas do cinema moderno, prefere errar.

    Ambos expressam o espírito das "nouvelles vagues" que, naquele momento, atravessava o mundo, do Japão ao Brasil, apagando as distinções entre autor, personagem e espectador e aproximando inquietudes diversas.

    A alegoria do trem que aprisiona em seu conforto a classe média dos anos 1960 incomodou demais o socialismo de portas fechadas, que manteve "Mãos ao Alto!" (1967) proibido durante 14 anos.

    ALTOS, BAIXOS E LAPSOS

    Skolimowski aproveita para seguir os passos do comparsa Polanski e se aventura numa carreira internacional feita de altos ("A Partida", 1967; "Ato Final", 1970), baixos ("The Adventures of Gerard", 1970) e lapsos.

    Entre os longos períodos improdutivos nas décadas de 1970 e 1990, o cineasta demonstra ter apenas ficado de tocaia, observando o mundo piorar. É o que revelam "Classe Operária" (1982), "O Sucesso É a Melhor Vingança" (1984) e "O Navio Farol", três triunfos sucessivos de quem só aprimorou o pessimismo.

    De volta à ativa desde 2008, o diretor produziu três longas, entre os quais o espetacular "Essential Killing" (2010) e o mal recebido "11 Minutos" (2015), ainda inédito no Brasil. Apesar de incompleta, a mostra é a oportunidade para quem não resiste a raridades.

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    próximas sessões

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    24/5 (QUARTA)

    17h30 'Diálogo 20-40-60'

    19h30 'O Navio Farol' (1985)

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    25/5 (QUINTA)

    17h30 '11 Minutes' (2015)

    19h30 'O Sucesso É a Melhor Vingança' (1984)

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    26/5 (SEXTA)

    17h30 'Correntes da Primavera' (1989)

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    CCBB, rua Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651. Ingr.: R$ 10

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