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    análise

    Com nomes menos conhecidos, Flip vai às margens

    MAURICIO MEIRELES
    DE SÃO PAULO

    30/05/2017 12h17 - Atualizado às 19h33

    A programação da próxima edição da Flip, divulgada na manhã desta terça-feira (30), mostra uma festa literária diferente dos outros anos. Em vez de se ancorar em grandes estrelas internacionais, a curadoria desta vez traz autores menos conhecidos no país e uma profusão de pequenas editoras.

    Entre os convidados, estão dois ganhadores do Man Booker Prize: o jamaicano Marlon James e o americano Paul Beatty.

    A literatura anglo-americana e os autores consolidados no mercado falante do idioma, que costumam estar no centro das atenções, terão menos espaço.

    Só quatro convidados escrevem nessa língua: além dos ganhadores do Booker, a sul-africana Deborah Levy, e o americano William Finnegan, jornalista ganhador do Pulitzer ano passado.

    Assim, a curadoria aposta em nomes pouco conhecidos no país, como a chilena Diamela Eltit, a ruandesa Scholastique Mukasonga e o islandês Sjón. É como se a Flip tivesse renunciado a um lado mais comercial da vida literária.

    Outro destaque é a busca da festa por diversidade, ponto em que costumava receber críticas. Assim, é possível esperar uma Flip feminina e negra. Pela primeira vez, o número de mulheres convidadas ultrapassa o de homens: elas são 24, enquanto eles são 22. Além disso, 30% dos convidados são negros.

    O perfil das editoras também mudou. A Companhia das Letras, que costuma liderar no número de convidados e pautar os grandes debates, continua na frente, mas perdeu protagonismo. Pela primeira vez, os principais nomes internacionais não são da editora, que só trará o tradutor português Frederico Lourenço.

    De autores nacionais, a casa paulista leva a historiadora Lilia Moritz Schwarcz e o romancista Julián Fuks, entre outros.

    A Record, que acabou longe da festa depois de criticá-la ao longo dos anos, ascende novamente e fica em segundo lugar. A editora carioca trará sete autores, como Alberto Mussa, Ana Maria Gonçalves e a argentina Leila Guerriero.

    Surge ainda um cipoal de pequenas editoras, como a Maza, a Pallas, a Malê –voltadas para autores negros ou temas relacionados–, e a Scriptum, entre outras.

    O evento também deixa de apostar nas conferências solitárias de escritores. Tradicionalmente, a Flip costumava oferecer mesas cativas para suas grandes estrelas —este ano, nenhum autor será entrevistado sozinho.

    A programação se relaciona à trajetória de Lima Barreto, o homenageado este ano. O autor não teve em vida o reconhecimento que buscou, não só por ter produzido uma literatura contra o establishment literário da época, mas também pelo racismo. Ele também se dedicou a representar os tipos marginais da sociedade.

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    Lima Barreto - Triste Visionário
    Lilia M. Schwarcz
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    VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA

    QUARTA (26)

    19h15 Mesa 1 - Sessão de abertura - Lima Barreto: triste visionário
    Vida e obra de Lima Barreto são apresentadas nesta aula ilustrada, comparando o Brasil que viu em sua época e o futuro que previa, com leituras e imagens inéditas de uma nova biografia.
    Lázaro Ramos
    Lilia Schwarcz
    dir.: Felipe Hirsch

    Mesa móvel: Fruto estranho
    Seis autores realizam intervenções poéticas por meio de formas híbridas -poesia, fotografia, vídeo, performance, teatro - com duração entre 10 a 15 minutos, distribuídas pela programação.
    Adelaide Ivánova
    André Vallias
    Grace Passô
    Josely Vianna Baptista
    Prisca Agustoni
    Ricardo Aleixo

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    QUINTA (27)

    10h território Flip | Flipinha - Mesa Zé Kleber: Aldeia
    A convivência e a fruição do território que vêm de sabedorias ancestrais são os principais temas desse diálogo entre três pensadores líderes de suas comunidades - dois indígenas e uma quilombola - que têm cada vez mais ressonância em todo o país.
    Álvaro Tukano
    Laura Maria dos Santos
    Ivanilde Kerexu Pereira

    12h Mesa 2: Arqueologia de um autor
    Entre a paixão e a minúcia, recupera-se a obra dispersa de um autor à margem e se define o lugar de Lima Barreto entre os clássicos e no cânone afro-brasileiro, nesta conversa que soma história e crítica literária.
    Beatriz Resende
    Edimilson de Almeida Pereira
    Felipe Botelho Corrêa

    15h Mesa 3: Pontos de fuga
    [Fruto Estranho: Josely Vianna Baptista]
    Três premiadas vozes da novíssima literatura em língua portuguesa falam de suas influências, técnicas e experiências: como lidam com a tradição e a renovam, seus modelos e perspectivas.
    Carol Rodrigues
    Djaimilia Pereira de Almeida
    Natalia Borges Polesso

    17h15 Mesa 4: Fuks & Fux
    A autoficção é um dos eixos deste diálogo, bem como as parcerias e rivalidades na história da literatura. Como pano de fundo, imigração, resistência, vanguarda francesa, matemática.
    Julián Fuks
    Jacques Fux

    19h15 Mesa 5: Odi et amo
    [Fruto Estranho: Grace Passô]
    A tradição greco-latina, seus mitos, poesia e narrativas, a Bíblia grega, a literatura e a cultura medieval: nesta conversa entre dois grandes tradutores do latim e do grego, tem-se uma breve história das ideias e dos sentimentos do Ocidente.

    21h30 Mesa 6: Em nome da mãe
    Histórias de guerras e de sobrevivência, de invenções e reconstruções artísticas a partir do ponto de vista feminino, no encontro entre uma brasileira filha de uma sobrevivente de Auschwitz e de uma ruandesa tutsi que perdeu a família no genocídio e é influenciada pela literatura do holocausto.
    Noemi Jaffe
    Scholastique Mukasonga

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    SEXTA

    10h território Flip | Flipinha - A pele que habito
    As identidades e as relações de cor nos países da lusofonia são o principal tema desta conversa, que parte da trajetória artística de um ator de sucesso no Brasil e uma jornalista portuguesa autora de premiado livro-documentário sobre o racismo em português.
    Joana Gorjão Henriques
    Lázaro Ramos

    12h Mesa 7: Moderno antes dos modernistas
    A singularidade da linguagem de Lima Barreto é evidenciada a partir de sua aversão ao bacharelesco e da visão da arte como militância, na sua escrita para jornal e nos diários do hospício. No debate, são lembrados autores que foram seus contemporâneos e autores posteriores sob sua influência.
    Antonio Arnoni Prado
    Luciana Hidalgo

    15h Mesa 8: Subúrbio
    [Fruto Estranho: Prisca Agustoni]
    Uma visita aos lugares por onde Lima Barreto passou no Rio de Janeiro, com seus personagens de crônicas, contos e romances, seguindo a linha do trem e arrabaldes de ontem e hoje, a etnografia e a poética das ruas, a partir de dois olhares: o de uma especialista em sua obra e em literatura contemporânea e o de um historiador que entende de Ifá, encantados, samba e cultura popular carioca.
    Beatriz Resende
    Luiz Antonio Simas

    17h15 Mesa 9: Na contracorrente
    A resistência feminina e os projetos realizados em campos periféricos da cultura e da ciência: neste encontro-depoimento, tem-se a trajetória de uma dos maiores nomes da arqueologia no mundo, a partir do Piauí, e de uma espanhola presidenta de uma instituição que tem como bandeiras a literatura em língua portuguesa, os direitos humanos e o meio-ambiente.
    Niéde Guidon
    Pilar del Río

    19h15 Mesa 10: A contrapelo
    [Fruto Estranho: Ricardo Aleixo]
    Uma escritora experimental chilena referência na crítica feminista e um refinado documentarista brasileiro, que contou a trajetória do poeta Wally Salomão e do pintor Leonilson, conversam sobre linguagens na fronteira e resistência artística.
    Carlos Nader
    Diamela Eltit

    21h30 Mesa 11: Por que escrevo
    Um jornalista que cobriu conflitos na África e que, nas horas vagas, praticava obsessivamente o surf e fez dessa experiência um premiado livro de memórias se encontra com uma escritora nascida na África do Sul do apartheid: uma conversa sobre as diferentes motivações de um escritor e a entrega ao ofício.
    Deborah Levy
    William Finnegan

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    SÁBADO

    10h território Flip | Flipinha - Voco
    Improvisações vocais entremeadas a poemas com interação do público. Sem se dar conta, as pessoas passam por uma série de procedimentos vocais extraídos tanto do contexto da música e da poesia experimentais quanto das práticas ritualísticas africanas e ameríndias. Efeitos eletrônicos, como os de pedais, são usados para a diversão das crianças.
    Ricardo Aleixo

    12h Mesa 12: Foras de série
    Personagens singulares da história e da literatura brasileiras, como ex-escravos que triunfaram e mulheres revolucionárias no Brasil do século 19, permeiam este debate sobre vozes dissonantes e as técnicas de pesquisa e escrita que reúne uma romancista e um historiador da escravidão —a invenção da liberdade até chegar ao período do pós-abolição de Lima Barreto.
    Ana Miranda
    João José Reis

    15h Mesa 13: Kanguei no Maiki - Peguei no microfone
    [Fruto Estranho: Adelaide Ivánova]
    O ativismo e a literatura —ao gosto de Lima Barreto—-, a resistência e a liberdade: eis o pano de fundo da conversa entre um rapper que fez um diário da prisão em Angola quando foi preso com livros considerados subversivos e uma escritora que, entre indas e vindas ao exterior, se dedicou à educação popular no sertão durante a ditadura.
    Luaty Beirão
    Maria Valéria Rezende

    17h15 Mesa 14: Mar de histórias
    Borges é o ponto comum entre os dois autores, um da Islândia e outro do Rio, que conversam sobre contos de fada, mitologias, narrativas antigas que viajam e surrealismo.
    Alberto Mussa
    Sjón

    19h15 Mesa 15: Trótski e os trópicos
    [Fruto Estranho: André Vallias]
    Os limites da ficção e da não ficção, os protagonistas e os coadjuvantes, o local e o global são os temas desta conversa entre um escritor viajante francês e uma jornalista que, baseada na Argentina, escreve para toda a América Latina.
    Leila Guerriero
    Patrick Deville

    21h30 Mesa 16: O grande romance americano
    Dois autores de uma mesma editora independente venceram, em anos sucessivos, o mais prestigioso prêmio de língua inglesa, o Man Booker Prize (2015 e 2016). Esta conversa revelará em que medida renovam a tradição a partir do seus pontos de vista particulares, a de um americano negro e a de um jamaicano negro que migrou para os EUA, onde ambos lecionam escrita criativa.
    Marlon James
    Paul Beatty

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    DOMINGO

    10h território Flip | Flipinha - Ler o mundo
    Aprender a olhar e escutar pelos livros infantis: duas escritoras brasileiras e um poeta e escritor negro conversam sobre leitura e olhares que lançam ao mundo e levam a suas obras para esse público.
    Ana Miranda
    Edimilson de Almeida Pereira
    Maria Valéria Rezende

    12h Mesa 17: Amadas
    Ao refazer sua trajetória com imagens e leituras, Conceição Evaristo, em conversa com Ana Maria Gonçalves, presta um tributo a outras vozes femininas africanas e da diáspora negra, como Angela Davis, Audre Lorde, Carolina de Jesus, Josefina Herrera, Nina Simone, Noêmia de Sousa, Odete Semedo, Paulina Chiziane e Toni Morrison.
    Ana Maria Gonçalves
    Conceição Evaristo

    15h Mesa 18: Livro de cabeceira
    Na sessão de despedida da Flip, conduzida tradicionalmente por Liz Calder, autores convidados leem trechos de seus livros prediletos.Frederico Lourenço
    Guilherme Gontijo

    Edição impressa

    Flip

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