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    Crítica

    Primeiro livro de Ferrante parece esboço do que a autora seria capaz

    FRANCESCA ANGIOLILLO
    EDITORA-ADJUNTA DE CULTURA

    10/06/2017 02h35

    UM AMOR INCÔMODO (regular)
    AUTORA Elena Ferrante
    TRADUÇÃO Marcello Lino
    EDITORA Intrínseca
    QUANTO R$ 34,90 (176 págs.) e R$ 22,90 (e-book)

    *

    É possível que "Um Amor Incômodo" tivesse passado despercebido se houvesse sido publicado antes de Elena Ferrante ter angariado tanto (merecido) interesse com sua tetratologia napolitana.

    Foi, assim, mercadologicamente oportuno editá-lo às vésperas do fim da série, captando tanto o interesse dos fãs ansiosos pelo quarto volume quanto o daqueles que, já tendo terminado a leitura da tetralogia, tentam conter a sensação de abstinência.

    No entanto é preciso dizer que este, que foi o primeiro romance publicado pela escritora italiana, não alcança o nível dos da série napolitana, ou mesmo o do ótimo "A Filha Perdida", também lançado pela Intrínseca.

    Nesta história em que uma filha, Delia, se debate com questões familiares que permanecem insepultas após a morte da mãe, Amalia, há um tanto de bizarrice fora de tom.

    Há, também, temas que aparecem em livros futuros de Ferrante. Por exemplo, o sentimento ambivalente com relação à mãe, ou a rejeição à Nápoles de origem, trocada por uma cidade mais ao norte, sempre buscando um espaço para desenvolvimento intelectual que a bela e maldita cidade do sul sufoca.

    Vale apontar que aqui –como em "Dias de Abandono" (editado pela Biblioteca Azul) e mais ainda na tetralogia– esse fantasma do subdesenvolvimento se expressa na reaparição do dialeto napolitano, como uma mancha resistente que não se deixa lavar.

    Um Amor Incômodo
    Elena Ferrante
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    A errância quase delirante de Delia por uma cidade que teima em não reconhecer como sua sufoca o leitor, mas não tanto quanto Ferrante seria capaz de fazer em "Dias de Abandono". A aparição do bairro e o fantasma da miséria, os porões escuros da série napolitana também se insinuam, mas de forma menos desenhada, neste primeiro trabalho de ficção.

    Há, sim, páginas de brilho, sobretudo no último terço, quando a trama engrena melhor. Mas, lido após as outras obras, o romance parece assumir um tom de rascunho do que viria. Ao final fica a impressão de que o maior interesse da leitura desse livro é comprovar quão longe Ferrante foi capaz de chegar.

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