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    ANÁLISE

    Adam West levou humor escrachado a várias gerações

    ANDRÉ BARCINSKI
    CRÍTICO DA FOLHA

    10/06/2017 15h47

    No mundo pré-internet e da TV aberta, Adam West, morto nesta sexta (9), reinou. Seu Batman, que interpretou em 120 episódios durante três temporadas na rede norte-americana ABC, foi um dos maiores ícones da televisão.

    Exibida originalmente entre 1966 e 1968, a série foi reprisada incontáveis vezes, levando o humor escrachado e "kitsch" a várias gerações de fãs. "Batman" virou uma espécie de símbolo da "inocência" dos anos 60.

    Curiosamente, a série surgiu na segunda metade da década, quando a Guerra do Vietnã e conflitos sociais e raciais mostravam que nem tudo era lindo e divertido como o início da década, com o surgimento dos Beatles e a explosão da cultura jovem, fazia parecer.

    Com suas lutas mal coreografadas, diálogos propositalmente estúpidos e os "Wham!" e "Pow!" que surgiam na tela a cada soco desferido, a série trouxe para a TV uma leveza que a tornou imensamente popular. A música-tema, um rock dançante e com vocais femininos escrito por Neal Hefti, também ajudou. É um dos grandes temas musicais da história da TV.

    Sobre a estética um tanto cafona e exagerada da série, West disse em 2010, em entrevista ao site "Slice of SciFi": "Nós tínhamos grandes roteiristas, que entendiam a insanidade da comédia que fazíamos. Por exemplo: no momento em que Batman estava prestes a botar a Mulher-Gato atrás das grades, ele dizia: 'Você provoca rebuliço em meu cinto de utilidades'. Essas coisas eram muito engraçadas".

    Em outra entrevista, West disse que ganhou o papel justamente porque entendeu o tom "kitsch" da série: "O tom era absurdo e exagerado, e achei isso irresistível. Acho que os produtores reconheceram isso em mim, talvez pelos trabalhos que eu havia feito antes na TV. Porque você não pode interpretar Batman de uma forma séria, sem deixar implícito para os telespectadores que existe algo estranho atrás daquela máscara, só esperando o momento certo de sair. Batman sempre foi um pouco maluco e estranho".

    A exemplo de muitos atores que se consagraram em papéis icônicos na TV, West teve dificuldade em conseguir trabalho depois que a série acabou. Nos anos 1970, quando a TV deu uma guinada em direção ao realismo, "Batman" virou uma relíquia de uma era ultrapassada. West fez muitos filmes ruins e era lembrado apenas como o velho Batman.

    Felizmente, também tinha muitos fãs, e alguns desses o ajudaram. Um foi o comediante Seth MacFarlane, criador da serie de animação "Family Guy", que inventou um personagem chamado Adam West, prefeito da cidade de Quahog, onde se passa a série, e convidou o próprio West a dublá-lo. O papel tornou West popular com uma nova geração de fãs e mostrou que ele podia fazer sucesso sem a ajuda do Homem-Morcego.

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