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    Crítica

    Sem irmãos, documentário sobre o 'Sepultura' fica pela metade

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    13/06/2017 02h00

    Divulgação
    O guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura
    O guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura

    SEPULTURA ENDURANCE (regular)
    ELENCO: Andreas Kisser, Lars Ulrich, Paulo Xisto e outros
    PRODUÇÃO: Brasil, 2017, 12 anos
    DIREÇÃO: Otavio Juliano
    Veja salas e horários de exibição.

    *

    Existem poucas histórias tão fascinantes no rock mundial como a do Sepultura, banda de moleques que saiu de Belo Horizonte para conquistar o mundo e inovar o heavy metal com elementos de música brasileira. Mas tudo isso não está representado no aguardado documentário da banda, "Sepultura Endurance".

    Até quem não acompanha o gênero pesado de perto já ouviu falar que os irmãos Max e Iggor Cavalera criaram a banda, com o baixista Paulo Xisto e um guitarrista que depois de dois álbuns seria substituído por Andreas Kisser. E sabe que hoje os Cavalera estão longe do grupo.

    A simples ideia de documentar o Sepultura animava qualquer fã, pelo som demencial da banda e pelos bastidores do rompimento com Max, em 1996, e com Iggor, na década seguinte. Mas o filme, que estreia no festival In-Edit nesta terça (13) e entra em cartaz na quinta (15), patina sem sair do lugar.

    A força da banda está bem exibida em trechos de shows que são um verdadeiro pandemônio, mas a decisão dos irmãos Cavalera de não participar do documentário (e proibir uso de imagens deles tocando) é um duro golpe para a tentativa de conseguir um retrato completo da banda.

    Na verdade, todo espectador deveria pagar meia-entrada para ver o filme, porque o que aparece na tela é justamente a metade da história. Acaba send o um diário de Andreas e Paulo, até bem interessante e com passagens reveladoras de como a estrada do rock afeta seus personagens. Mas falta coisa.

    Andreas credita a saída do vocalista e guitarrista Max à influência de Gloria, mulher dele que se tornou empresária da banda e teria feito a cabeça de Max para se lançar em carreira solo. Ela é retratada como uma verdadeira Yoko Ono do rock brasileiro.

    É inevitável para quem assiste querer saber o lado de Max e da mulher, assim como a versão de Iggor para sua saída, ao que tudo indica num momento de estresse pelas longas turnês.

    A ausência dos Cavalera não faz falta apenas para contemplar os dois lados da história. Afeta também quando o tema é a barra pesada que foi a entrada de Derrick Green para cantar no lugar de Max, devido à resistência de empresários e gravadora por terem escolhido um negro como nova voz da banda.

    Para destacar o peso de Green, realmente uma força da natureza no palco, muitos depoimentos falam de como seria mesmo difícil substituir um talento como o de Max. Mas nada mais no filme sequer esboça o que Max significou para a banda.

    Como Andreas conduz quase toda a narrativa, há um destaque grande demais (embora merecido) para a maneira como ele melhorou o som da banda, não por coincidência na época em que o Sepultura se lançou com sucesso para o mercado mundial.

    O filme de Otavio Juliano é um prato cheio para fãs, mostrando a intimidade do grupo na estrada, mas exagera nos depoimentos elogiosos dados por grandes nomes do metal. Gente do Metallica, Motorhead, Slayer, Megadeth e outros. É muita brodagem.

    Que o Sepultura é incrível todos já sabem. Mas os bastidores mais crus de sua história ainda não apareceram.

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