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    Moda

    Análise

    Punk já foi mais que jeans rasgado combinado a botas de tachinhas

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    13/06/2017 16h19

    Antes de ser punk significar gastar horas em frente ao espelho, não comer carne da JBS e usar jeans rasgado no joelho combinado a botas de tachinhas, uma turma de estilistas, músicos e poetas produziu, assim como o movimento hippie nos Estados Unidos, uma das primeiras manifestações da contracultura a ganhar estética própria.

    Mais duradoura das tribos urbanas do século 20, o punk vinculou acordes ao estado de espírito jovem por meio de estetas como o produtor Malcom McLaren (1946-2010), ex-empresário do Sex Pistols, a estilista Vivienne Westwood e diversos outros artistas, tanto da música quanto da moda, que deram sobrevida ao estilo baseado no inconformismo.

    McLaren e Westwood fundaram em Londres, nos anos 1970, a loja SEX, templo da moda subversiva pregada pelo movimento "anti-establishment".

    Era lá que ídolos daquele tempo, de Sid Vicious (1957-1979) a Mick Jagger, de David Bowie (1947-2016) a Joe Strummer (1952-2002), garimpavam suas camisetas com aplicações de ossos, estampas polêmicas -a de dois caubóis gays seminus foi um escândalo à época- e as famigeradas peças rasgadas.

    Do outro lado do Atlântico, o Ramones popularizava a versão americana da "contravenção", o All Star Chuck Taylor, tênis da grife Converse todo feito de lona que até hoje calça músicos e adolescentes com um invólucro rebelde.

    Se a união entre estilo e ideologia representou um dos pontos mais interessantes do punk, também sagrou sua maior contradição. O viés anárquico deu lugar ao consumismo, conduzido pelo poder de persuasão da indústria do entretimento combinado ao da moda.

    Entre gel para espetar cabelo, seja ele molhado ou de efeito mate, e xadrezinho escocês de linhas esverdeadas, todo o discurso inconformista foi enlatado, e, vez ou outra, aparece repaginado nas passarelas e nas vitrines de moda popular.

    Nas últimas temporadas de Paris, a grife Saint Laurent tem dado cara de luxo ao couro detonado, e a nova sensação da França, a marca Vetêments, recupera o quadriculado nas propostas de alfaiataria.

    O punk de butique até virou exposição do Metropolitan Museum, em 2013. A mostra "Do caos à costura" provou como criações de Jean Paul Gaultier, Marc Jacobs, Rei Kawakubo, Nicholas Ghesquière e uma centena de outros designers foram impactadas pelo rolo transgressor de outrora.

    Tem mais. Relatórios de tendências afirmam que o cenário desenhado nos 1970, um triângulo de altos índices de desemprego, desilusão com a paz mundial e conflitos políticos, ou seja, os pavios do pensamento punk, já condicionam o comportamento da nova geração. Vivo, morto ou morto-vivo, a moda não deixará o punk descansar em paz.

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