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    Lava Jato

    Ministro da Cultura pede demissão e diz que a pasta se tornou 'inviável'

    MÔNICA BERGAMO
    COLUNISTA DA FOLHA
    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA
    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    16/06/2017 13h01 - Atualizado às 11h50

    O ministro interino da Cultura, João Batista de Andrade, pediu demissão nesta sexta (16). Em carta enviada ao presidente Michel Temer, Andrade afirmou não ter interesse em continuar na pasta.

    O cineasta, que era secretário-executivo do ministério, subiu interinamente ao cargo em maio, quando Roberto Freire pediu demissão em reação às gravações do empresário Joesley Batista em conversas suspeitas com Temer.

    Filiado ao PPS, presidido por Freire, Andrade disse à Folha que a decisão se deveu ao corte de 43% do Orçamento do Ministério da Cultura, há dois meses, e aos desacordos quanto à nomeação do presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

    Segundo integrantes do Palácio do Planalto, a disputa na Ancine havia desgastado a relação entre o governo e o ministro interino, e Temer já avaliava nomear o novo chefe da Cultura na volta de sua viagem à Rússia.

    Ex-ministra da Cultura (2012-2014), a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) recusou convite feito há algumas semanas para voltar. A Folha não a achou para comentar.

    Mesmo com a demissão de Andrade, Temer decidiu não antecipar a nomeação. O deputado André Amaral (PMDB-PB) é cotado para a pasta.

    ATRITOS

    Andrade queria nomear Debora Ivanov, que contava com apoio de cineastas e do ex-titular do ministério, como presidente da Ancine. Deparou-se, porém, com indicações do Planalto e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o posto.

    "O presidente tem direito de fazer isso, mas não é a boa política desautorizar o Ministério da Cultura", disse Andrade. "A Ancine é uma entidade vinculada ao MinC. Não faz sentido que o ministro não possa indicar os nomes."

    Ele também havia sugerido que Jorge Peregrino, executivo da área de distribuição, ocupasse a quarta vaga na diretoria colegiada da agência. "Fiquei sabendo pelo Diário Oficial que o governo havia nomeado outra pessoa", afirma. A gerente cultural Fernanda Farah Zorman foi anunciada na quarta (14).

    No acerto do governo, Sérgio Sá Leitão presidiria a agência, e o nome indicado por Maia assumiria uma diretoria da Ancine, descartando a opção de Andrade.

    Andrade, que teve outros cargos públicos –foi secretário estadual de Cultura de São Paulo e presidente da Fundação Memorial da América Latina– disse que pretende retomar sua carreira como cineasta e escritor.

    Ele diz que não discutiu a demissão com o PPS.

    "Não tenho que pedir permissão. Mas fiz a gentileza de ligar e avisar o Roberto Freire, porque era uma decisão pesada." Isso porque, com sua saída, o MinC fica também sem secretário-executivo. Freire apoiou sua decisão.

    Andrade não critica diretamente o presidente Michel Temer, mas afirma que houve um processo de saturação com governo e desrespeito em relação ao ministério.

    "O ambiente hoje não é propício a uma boa política cultural. Eu não quero participar de uma roleta pelo cargo, vim para cá para fazer política cultural, não para ter um emprego", afirma.
    Ele também afirma que, após o corte orçamentário, o ministério ficou "inviável".

    "Era um ministério que já estava deficiente. O Fundo Nacional de Cultura, que já teve R$ 500 milhões na época áurea, hoje tem zero de recurso. É um ministério inviável tratado de forma a inviabilizá-lo ainda mais."

    Terceiro a assumir o MinC no governo Temer, ele acrescentou ainda que o país vive um "quadro desfavorável para a política cultural" e não opinou sobre futuros nomes que possam assumir pasta.

    *

    Leia a íntegra da carta de demissão de João Batista de Andrade:

    Brasília, 16 de junho de 2017.

    Ao Excelentíssimo Presidente da República

    Senhor Michel Temer

    Ref.: Vacância do cargo do Ministro Interino da Cultura

    Comunico a Vossa Excelência, respeitosamente, o meu desinteresse em ser efetivado como Ministro de Estado da Cultura, posto que venho exercendo interinamente, e por determinação legal do regimento interino, por ser o atual Secretário-Executivo do Ministério da Cultura.

    Assim sendo, confirmo a minha disposição para contribuir da forma mais proativa possível com a transição de gestão no Ministério da Cultura, até a nomeação do próximo Ministro de Estado da Cultura e seu respectivo Secretário-Executivo.

    _Respeitosamente,_

    João Batista de Andrade

    Ministro do Estado Interino da Cultura

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