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    Juca Ferreira: 'A direita está solta e nadando de braçada depois do golpe'

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    20/06/2017 02h06

    Anunciado para assumir a Secretaria de Cultura de Belo Horizonte, Juca Ferreira diz que "a direita está solta e nadando de braçada depois do golpe", mas que a área cultural tem uma proteção contra o antipetismo –"essa bobagem, esse sectarismo, esse ódio".

    O ex-ministro da Cultura dos governos Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), que também passou pela Secretaria de Cultura de São Paulo na gestão Fernando Haddad (PT), ocupa o novo posto na quinta (22).

    A Secretaria de Cultura de BH foi recriada pelo prefeito Alexandre Kalil (PHS) em reforma administrativa aprovada na Câmara no último dia 14. A área cultural da cidade estava a cargo da Fundação Municipal de Cultura.

    Em entrevista à Folha, Ferreira diz que o Ministério da Cultura, que acaba de perder o ministro interino João Batista de Andrade, está sendo demolido. Partidário das diretas já, afirma ainda que as mudanças na Lei Rouanet foram meros "esparadrapos" e que o secretário de Cultura de São Paulo, André Sturm, pega a "rebarba da antipatia" gerada pelo prefeito paulistano João Doria (PSDB).

    Danilo Verpa/Folhapress
    Juca Ferreira em encontro na Funarte em 2016
    Juca Ferreira em encontro na Funarte em 2016

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    Folha - O que o sr. conhece da cultura de Belo Horizonte e o que pretende na sua gestão?
    Juca Ferreira - Como ministro eu fui muitas vezes a Belo Horizonte e a Minas. Sei da articulação da cidade com o interior, sei da importância da área de dança, de teatro. Vou construir os projetos políticos junto com os artistas e os produtores culturais.

    Tem algum projeto que o sr. já tem desenhado?
    A primeira coisa é conversar com a Fundação Municipal de Cultura, que segurou o tranco esses anos. Tenho uma responsabilidade imensa de estruturar a secretaria, que está nascendo comigo.

    Como fica a estrutura e a verba da secretaria e da fundação?
    Conversei com vereadores e percebemos que era importante ampliar um pouco a estrutura da secretaria e ter uma suplementação de recursos [ainda não há valor definido; o orçamento da fundação é de R$ 55 milhões para 2017].

    Considerando as condições políticas e econômicas, a secretaria está nascendo direitinho. O que preciso ver são os detalhes do ordenamento entre o que ficará na estrutura centralizada [secretaria] e o que será mantido como estrutura descentralizada [fundação].

    Tudo será feito dentro de uma preocupação muito grande de que seja um avanço e não uma desestruturação do acumulado. Nunca é bom desestruturar. Isso que estão fazendo no Ministério da Cultura é um horror, um absurdo, uma irresponsabilidade.

    O prefeito Alexandre Kalil foi corajoso em nomear o senhor num momento de antipetismo exacerbado?
    Não. A área cultural tem uma certa proteção dessa bobagem, desse sectarismo, desse ódio, dessa divisão. Eu saí muito bem avaliado do MinC e da secretaria de SP, e tenho um trânsito em setores culturais. As opções partidárias fazem parte da democracia.

    João Batista de Andrade foi o terceiro a deixar o comando do MinC. Como o sr. vê isso?
    Estão deliberadamente destruindo o ministério. Desarticulando equipes e destruindo políticas e programas. Esse terceiro ministro demorou um pouco a perceber que a presença dele, neste momento de demolição no ministério, era conflitante com sua biografia, mas acabou reconhecendo.

    Como o sr. avalia o cenário nacional?
    O governo praticamente já acabou. Está sendo mantido como um doente terminal. Enquanto não houver um presidente legitimamente eleito pelo cidadão e pela cidadã, vamos ter níveis de instabilidade e de dificuldade de engrenar um processo de retomada do desenvolvimento e da vida democrática do país.

    O que o sr. pensa das mudanças na Lei Rouanet?
    Que mudanças?

    Um novo limite de financiamento...
    Isso são esparadrapos para tentar tratar algo que já está diagnosticado e já tem uma terapia prevista. A Lei Rouanet não tem condições de dar sustentação a um fomento e financiamento saudável da cultura brasileira em todo o seu território.

    Essa ideia de fiscalização em tempo real e uma série de mudanças não são suficientes?
    Isso é tergiversação, eu chamaria. Fizeram uma CPI e descobriram que não houve nenhuma grande irregularidade. São bobagens. A gente está com uma mania de crime no Brasil. O problema da Lei Rouanet é que ela é perversa, porque seu modelo gera concentração excessiva.

    Existe uma patrulha em cima da direita na cultura?
    Não, pelo contrário. A direita é que está solta, nadando de braçada depois do golpe.

    Essa direita tem espaço na cultura?
    A cultura é plural. A base da riqueza cultural do Brasil é a sua diversidade, em todos os aspectos. Aqui ninguém domina, não existe isso.

    O sr. acha que André Sturm tem condições de ser secretário da Cultura em São P?
    Não estou acompanhando. A área está agitada, acho que ele pega um pouco da rebarba da antipatia que a arrogância do prefeito [João Doria] gera. Então ele fica ali espremido com pouca margem de relacionamento positivo.

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