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    Crítica

    Loops e samples refrescam novo álbum de Boogarins, 'Lá Vem a Morte'

    ISABELA YU
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/06/2017 02h02

    LÁ VEM A MORTE (regular)
    ARTISTA Boogarins
    GRAVADORA: Silliterme Produções Musicais
    QUANTO: US$ 10 (R$ 33, no site boogarins.com )

    *

    Sem grandes alardes, o quarteto goiano Boogarins lançou no início de junho o terceiro disco da carreira, "Lá Vem a Morte", com menos de meia hora de duração e oito músicas. O chamado "long EP" é o registro mais conciso da carreira da banda, conhecida pelo rock psicodélico.

    Não só pelo número de músicas, mas pela intenção de criticar o tempo em que vivemos acompanhada de experimentalismos musicais.

    Logo no texto de apresentação do trabalho, Fernando Almeida Filho, o Dinho (vocalista e guitarrista), discorre: "Cinismo não é apenas um sentimento. É algo sólido, que machuca todas as vezes em que você precisa considerar que seus desejos precisam respeitar a vida do outro". Como combater essa desfaçatez institucionalizada?

    Ele é acompanhado de Benke Ferraz (guitarrista e produtor), Raphael Vaz (baixo e sintetizador) e Ynaiã Benthroldo (bateria). Esse clima apocalíptico-deprê foi inspiração para o novo trabalho, que conta com músicas com títulos como "Foimal", "Onda Negra", "Polução Noturna" e "Corredor Polonês".

    Dylon O./Divulgação
    Da esq. para a dir., Benke Ferraz, Raphael Vaz, Dinho e Ynaiã Benthroldo, do quarteto Boogarins, durante o festival Bananada
    Benke Ferraz, Raphael Vaz, Dinho e Ynaiã Benthroldo, do Boogarins, durante o festival Bananada

    O músico carioca Bonifrate (do finado Supercordas) participa com teclado e vocais na faixa "Elogio à Instituição do Cinismo" –a única música já conhecida antes do lançamento e uma das mais "processadas" do álbum.

    Se isolarmos a voz do instrumental, os timbres e beats nada lembram aquela banda que fazia canções inspiradas no tropicalismo escapista d'Os Mutantes.

    Se o tom das letras é pessimista/etéreo, as composições dão um passo além, com recortes de samples, de loops, inserção do noise e o floreio com a música eletrônica e pop. Momentos mais bagunçado com outros de calmaria.

    O grupo inseriu o sintetizador modulador Moog nas composições, o mais conhecido da história (segundo o jornal inglês "The Guardian"), assim, as faixas ganharam camadas extras de texturas e ruídos. O que deve ser interessante de ver ao vivo "" a bateria também é eletrônica na gravação.

    A morte aparece três vezes, em "Lá Vem a Morte Pt.1", "Lá Vem a Morte Pt.2" e "Lá Vem a Morte Pt.3", que marcam o início, o meio e o fim do disco.

    Uma pequena digressão: "E se ela é forte/Eu também sou/Meu corpo é um choque/ Pro seu valor" –Dinho canta logo no início do novo álbum. Se você escutar rapidamente "As Plantas que Curam", primeiro disco do grupo, lançado em 2013, pode se familiarizar com os temas dissecados em "Lá Vem A morte".

    Em "Erre" (do primeiro trabalho), ele fala: "Morte adentro mergulhei/Me refiz forte" ou "Só agora descobri a falta das notas que nunca ouvi/Que soam como um corte/ Um corte em mim".

    Desde o primeiro disco, o grupo tem casado turnês fora (estão nos EUA até julho), com o circuito de festivais independentes no país. Neste ano estão confirmados no dia 13 de julho no festival Super Bock Super Rock, em Lisboa. E, ao lado da cantora Céu, participam do Rock in Rio, no dia 15 de setembro.

    Talvez o tempo na estrada tenha sido suficiente para a banda se desvencilhar do regionalismo psicodélico made in Goiânia e absorver referências mais universais.

    Essencialmente, o grupo tenta mesclar a experiência sensorial com a visual, criando atmosferas e climões em suas apresentações ao vivo. Ou produzem vídeos com glitch ("falhas") e imagens que derretem para a turma da internet.

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