• Ilustrada

    Thursday, 09-May-2024 05:20:07 -03

    Nova 'Twin Peaks' vira celeiro de bandas, que tocam a cada episódio

    LÚCIO RIBEIRO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/06/2017 02h00

    Você pode não estar entendendo o que acontece nos atuais episódios de "Twin Peaks", a retomada da famosa série dos anos 1990 dirigida pelo muuuito imaginativo David Lynch e lançada pela Netflix.

    Mas uma coisa dá para absorver desta reinvenção do seriado que há 27 anos botou a televisão de cabeça para baixo: Lynch segue muito amigo da música independente.

    O cineasta, diretor, produtor, fotógrafo, escritor, pintor, dono de clube, proprietário de gravadora e músico americano tem colocado uma banda nova ou uma banda não-tão-nova-tocando-música-nova para se apresentar nos episódios, que entram às segundas na Netflix brasileira.

    Dos sete capítulos mostrados até agora, cinco têm um grupo tocando no palco do Bang Bang Bar enquanto a história se desenrola e personagens antigos e recentes interagem com drinques em meio à música, até os créditos finais subirem. E outras bandas, sabe-se, terão sua vez no palco dentro da série.

    É praticamente um videoclipe dirigido por Lynch. No episódio de estreia da nova "Twin Peaks", no fim de maio, o Chromatics, banda de dream pop de Portland, apareceu na taverna de beira de estrada do seriado desempenhando seu single "Shadow".

    A música, que deve estar em "Italians Do It Better", quinto álbum da banda, a ser lançado neste ano pelo selo de Jewel, foi mostrada em 2015, mas ganhou relançamento agora para aproveitar o oba-oba em torno da série.

    O Chromatics ainda fez performance na festa de lançamento do seriado, em Los Angeles, no dia em que a Netflix liberou "Twin Peaks" para os EUA. E aproveitou para lançar o vídeo oficial da música.

    O terceiro episódio trouxe a insólita dupla de irmãos Jack Torrey e Page Burkum, violonistas do grupo Cactus Blossoms, cuja sonoridade mistura uma antiga americana com o folk moderno indie atual.

    Em "Twin Peaks", os irmãos tocam a música "Mississippi" para o povo do seriado dançar no bar da estrada. A canção faz parte do álbum de estreia do Cactus Blossoms, "You're Dreaming", lançado no ano passado com certo barulho no underground americano, mas que recentemente ganhou um adesivo na capa dizendo "contém 'Mississippi', apresentada em "Twin Peaks'".

    O quarto capítulo teve a presença musical do Au Revoir Simone, trio de garotas do Brooklyn, Nova York, na cena desde 2006. Enfileiradas no palco do Bang Bang, cada uma na frente de um teclado, Erika Forster, Annie Hart e Heather D'Angelo foram buscar no segundo álbum delas, "The Bird of Music", a bela e viajante "Lark".

    NEPOTISMO MUSICAL
    Em um nepotismo musicalmente bem-vindo, o filho de Lynch, Riley, apareceu com sua banda Trouble no quinto episódio. Dona de um chamado "R&B noir" estiloso, o Trouble é um recém-formado trio instrumental que tem apenas um single lançado, exatamente "Snake Eyes", a música tocada em "Twin Peaks".

    Além de Riley, a banda tem no saxofone o talentoso guitarrista Alex Zhang Hungtai. Do Trouble, faz parte ainda o baterista Dean Hurley, cuja ocupação principal é ser engenheiro de som e supervisor musical de Lynch há anos.

    "Snake Eyes" é a música que mais toca nessa parte final do seriado. Ela vira fundo sonoro de uma cena protagonizada por um bad boy aparentemente envolvido com coisas ilícitas e apavorando menininhas no Bang Bang.

    Musa indie americana, Sharon Van Etten foi a convidada de Lynch para o encerramento musical do episódio seis e botou um pouco de calmaria na trama doida do diretor. Com "Tarifa", de seu aclamado álbum "Are We There", de 2014, Van Etten botou os frequentadores do Bang Bang para dançar juntinho.

    No episódio 7, o desta semana, não tem música ao vivo no Bang Bang. Mas o bar aparece em cena, com pouca luz e alguém varrendo seu chão por longos 3,30 minutos, com um blues ao fundo. Apenas isso. Até que o telefone toca e o bartenders conversa sobre duas meninas de 15 anos "classe A" que ele mandou para alguém e agora quer o dinheiro pelos serviços prestados. E a música para de tocar.

    Em especial para quem gosta de música, a pergunta em "Twin Peaks" deixou de ser "Quem matou Laura Palmer?" para virar "Qual banda vai tocar no próximo episódio?".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024