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    Sob Trump, Katy Perry quer provar que não é mais uma garota leviana

    CARYN GANZ
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    22/06/2017 02h10

    John Salangsang/Invision/AP
    Katy Perry performs during 'Katy Perry - Witness World Wide' exclusive YouTube Livestream Concert at Ramon C. Cortines School of Visual and Performing Arts on Monday, June 12, 2017, in Los Angeles. (Photo by John Salangsang/Invision/AP) ORG XMIT: CAJS202
    Perry em show de 'Witness' em Los Angeles; apresentação foi transmitida ao vivo pelo YouTube

    Superestrela pop, Katy Perry lança o quarto álbum por uma grande gravadora, "Witness", e se destaca como um dos maiores sucessos da indústria, ao lado de Madonna, Taylor Swift e Beyoncé.

    Segundo a Nielsen Music, que reúne dados do setor, a cantora de 32 anos vendeu 6,5 milhões de álbuns e 71 milhões de faixas em formato digital nos EUA. Catorze canções ficaram entre as dez mais no ranking da "Billboard".

    Para Perry, a eleição de Donald Trump a fez despertar de um passado de misoginia. Agora, com novo look, música e vocabulário, ela se esforça para provar que não é a mesma garota leviana.

    Graças à inquietação de Madonna, a expectativa é a de que estrelas pop se reinventem em intervalos de poucos anos. A popstar diz estar revelando seu verdadeiro eu.

    "Sinto-me muito poderosa, extremamente liberada do condicionamento da maneira que eu costumava pensar, espiritualmente, sexualmente, de coisas que não me servem."

    Parou de beber e participa de terapia familiar. Os pais são pastores pentecostais, e ela foi criada em um ambiente de severa tradição religiosa. "Fui àquele lugar escuro que vinha evitando e raspei todo o mofo. Não foi divertido, mas foi o que fiz e continuo fazendo."

    Mudança também é o tema de "Witness", introspectivo e menos pop do que "Prism" (2013) e "Teenage Dream" (2010). É o seu primeiro sem o produtor Dr. Luke, mas foi mantida a parceria com Max Martin, produtor sueco que comanda uma fábrica de hits.

    Assumiu mais controle criativo com uma palheta sonora onírica, dançante e menos grudenta. Ainda assim, "Witness" foi alvo de duras críticas.

    No complicado mundo dos fãs de internet, as opiniões mais negativas muitas vezes vêm do núcleo mais fervoroso de admiradores –tão preocupados com a mudança que exigiram a demissão de sua executiva Lauren Glucksman.

    "As pessoas não deixam os outros amadurecer. Querem que sejam uma coisa só", reclama a cantora.

    Ela não precisa morar em uma casa com 41 câmeras para saber que vive sob constante vigilância. Quando passou a apoiar Hillary Clinton, se tornou alvo da direita alternativa. Ao se preparar para "Witness", virou alvo da esquerda.

    Para a popstar, reagir às críticas é "enlouquecedor". Mas ela tem parte de responsabilidade. Alguns esforços promocionais para "Witness" se baseavam em rixas pessoais.

    Mas vale analisar seu maior sucesso, "Teenage Dream", com cinco faixas no topo –igualando-se a Michael Jackson ("Bad"). Solidificou-se ali a imagem de "sex symbol" desajeitada que aborda amor, separação e força interior.

    A persona despreocupada que adota esconde fatigantes turnês e promoções em rádio.

    Parte da pressão vinha por manter a imagem altamente sexual. "Tinha medo de intimidade. Usava a sexualidade para atrair atenção. Me mostrava como altamente sexual porque não sabia o que fazer."

    A mudança veio após a solução de problemas com o pai. "A eleição me despertou, com um homem que não vê as mulheres como iguais. Um tema comum em minha criação."

    Perry é adorável e cheia de contradições. Durante a entrevista, proclamou-se devota do diálogo, mas fazia um monólogo quase ininterrupto. Queixou-se da internet, mas se vangloriava de ter 100 milhões de seguidores no Twitter. Esse despertar é visto por alguns como estratégia de marketing –7 das 17 faixas tratam dessa nova maneira de pensar.

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    Ouça o novo álbum de Katy Perry 'Witness'

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    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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