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    CRÍTICA

    'Garota Ocidental' mostra conflito de tradições arcaicas com secura

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA FOLHA

    22/06/2017 01h00

    A Garota Ocidental - Entre o Coração e a Tradição (Noces) (bom)
    CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
    PRODUÇÃO: Bélgica/Paquistão/Luxemburgo/França, 2017
    DIREÇÃO: Stephan Streker
    Veja salas e horários de exibição.

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    Diante do panorama cinematográfico atual, dominado por desleixo formal, fragilidade estrutural e onipresença do tema, "A Garota Ocidental - Entre o Coração e a Tradição", terceiro longa do diretor belga Stephan Streker, é um alento.

    Zahira Kazim (Lina El Arabi) é a segunda filha de uma família paquistanesa que vive em Luxemburgo. O irmão mais velho, Amir (Sébastien Houbani), é seu único aliado na tentativa de harmonização entre a vida ocidental e a tradição muçulmana.

    Prisioneira de um costume ancestral aos 18 anos de idade (época de descobertas e incertezas), ela precisa esconder uma gravidez, ao mesmo tempo em que se vê obrigada a escolher um noivo entre três jovens que lhe são apresentados.

    Habituada ao ocidente, onde conta com a amiga leal Aurore (Alice de Lencquesaing), Zahira fará de tudo para escapar dessa tradição que confina as mulheres em vidas infelizes, mesmo que para isso coloque a felicidade de sua própria família em risco.

    Não é um tema fácil de ser trabalhado. No cinema, já rendeu uma série de filmes cinematograficamente nulos, ou demagogos, assistencialistas, quando não oportunistas.

    É preciso mão firme para evitar os perigos da imposição pelo tema e ultrapassar os inúmeros obstáculos capazes de enfraquecer o conflito entre diferentes costumes.

    Assista ao trailer da 'A Garota Ocidental'

    Trailer garota ocidental

    Stephan Streker, ex-crítico de cinema e ex-repórter esportivo, evita boa parte dos perigos e ultrapassa alguns obstáculos. Quando não é feliz, sabe contornar o problema com uma secura poucas vezes vista nesse tipo de filme.

    Um exemplo está logo no começo, quando Zahira sai do hospital após um aborto não concluído e encontra o irmão entretido por um videoclipe sensual. Streker abandona o desespero de Zahira para promover um contraponto banal: mostra o videoclipe em alto e bom som, ocupando toda a tela e nos tomando por instantes.

    Felizmente, momentos como esse empalidecem diante do rigor com que o diretor segue seus personagens. Estes, sempre na encruzilhada entre os caminhos do desejo e a redoma comportamental construída por costumes arcaicos.

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