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    Mostra explora as mutações na obra do artista plástico Ricardo Basbaum

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    28/06/2017 02h00

    Um retângulo com um buraco no meio, seus quatro cantos cortados, virou uma marca na obra de Ricardo Basbaum. Esse olho estilizado, ou "mais diagramático, com aspecto seco", nas palavras do artista, surge em desenhos de nanquim, plantas arquitetônicas, versões de tecido, colchões e estruturas metálicas que ele vem construindo ao longo das últimas décadas.

    Menos um desenho e mais um pretexto, o símbolo que agora se espalha em todas essas encarnações pelos dois andares da galeria Jaqueline Martins resume sua série "NBP", ou "Novas Bases para a Personalidade", iniciada na década de 1990 com desdobramentos até a atualidade.

    Não é um trabalho sedutor. Na superfície, as obras de Basbaum parecem rejeitar a contemplação. De simplicidade enganosa, seus desenhos e instalações parecem dizer menos do que poderiam.

    Divulgação
    Corte de Cabelo', obra de Ricardo Basbaum, agora na galeria Jaqueline Martins
    'Corte de Cabelo', obra de Ricardo Basbaum, agora na galeria Jaqueline Martins

    Numa das paredes da mostra, um diagrama com as palavras "eu", "você", "crítica", "arte" e "teoria" flutuando entre linhas que lembram o interior movediço de uma célula remete a esforços desajeitados -e nem um pouco sexy- de explicar toda a teoria da comunicação.

    Mas Basbaum não é uma aula. Nesse sentido, seus diagramas de pegada orgânica e o enigmático símbolo "NBP" se articulam num esforço tentacular de entender e questionar o papel da arte num mundo em mutação.

    Sua obra, no caso, seria "uma estrutura de memorização, algo que se desmaterializa e entra no seu corpo como um vírus e mexe com a comunicação". O corpo, tanto do artista quanto do público, aliás, nunca se desprendeu dessas suas obras metalinguísticas.

    Quando Basbaum começou sua "NBP", a ditadura militar acabava de se dissolver e a MTV se tornava uma referência estética, com clipes musicais e uma realidade de comunicação de massa mais agressiva que parecia se impor como novo paradigma visual.

    Basbaum se apropriou dessas estratégias em performances como as que cortava o cabelo diante de uma plateia ou em ações para a câmera em que mostrava um corpo andrógino em transformação.

    "Tinha a ideia de brincar com os meios de comunicação, com o rádio e a TV, e se alterar, de estar ali num gênero indefinido, de fazer um corte de cabelo que mudava sua imagem fotográfica, corporal", lembra Basbaum. "Era quase uma preparação para um ritual, algo sobre como se legitimava um artista num momento em que o mercado passava a ser algo devorador."

    RICARDO BASBAUM
    QUANDO de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., 12h às 17h; até 22/7
    ONDE galeria Jaqueline Martins, r. Dr. Cesário Motta Jr., 443, tel. (11) 2628-1943
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