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    Crítica

    'A Casa', da Record, é arquitetada por sádicos para espíritos de porco

    IVAN FINOTTI
    DE SÃO PAULO

    28/06/2017 01h19

    A Casa (Ótimo)
    ONDE: RECORD
    QUANDO: TER E QUI, 22H30

    Está definitivamente liberada a comédia para os espíritos de porco. Pega mal gargalhar do infortúnio de cem infelizes que se voluntariaram a passar dias em uma casa de 120 metros quadrados na qual cabem apenas quatro pessoas?

    Não, o sadismo está liberado na Record. E olha que esse primeiro episódio de "A Casa" foi leve demais. Só no finzinho vimos chorando algumas pessoas que estão passíveis de expulsão no próximo programa, que irá ao ar nesta quinta (29).

    Nesta terça (27), metade de "A Casa" mostrou os participantes ainda em euforia por estarem chegando ao reality-show. Três pessoas se mandaram após dormir uma noite, uma delas índia, porque não aguentaram o desconforto das primeiras 24 horas. Não há onde deitar, não há o que comer, é difícil se lavar, para se enxugar é preciso usar uma toalha usada por dezenas.

    Mas a grande maldade de "A Casa" não é inserir cem corpos onde cabem quatro. É a seguinte: quase toda comida, papel higiênico, toalha e cobertor precisa ser comprado a preços abusivos (R$ 2.500 por quatro cobertores e um litro de chocolate quente; R$ 2.000 por um almoço para quatro pessoas). E esse dinheiro, eis o problema, é descontado do prêmio de R$ 1 milhão que o finalista receberá daqui a três meses.

    Assim, de comum acordo, esse grupo de cem prefere passar fome e mal se limpar para reservar o dinheiro que será de apenas um vencedor. É ganância pura. É demasiado humano. É engraçado demais, caso você tenha o espírito de porco necessário.

    A ideia não é nossa, vem da Inglaterra, e uma versão estreou antes no país dos realities, a Holanda. Como diferença, uma maldade a menos no nosso placar: na versão holandesa havia um banheiro para cem, aqui são dois.

    Na terça, após o reality, o apresentador Marcos Mion foi entrevistado no programa de Fabio Porchat, na mesma emissora. Cinicamente, Mion disse: "Não é um reality de sofrimento. Há tudo do bom e do melhor para eles comprarem. Mas há uma tendência deles a sofrer".

    É óbvio que a produção contava com isso. Ou não teria produzido o programa. Qualquer um saca na hora que se trata de um reality de sofrimento. E virão brigas e pancadarias por aí, Mion adiantou na entrevista.

    Esse programa é valioso. Voto para que o próximo foguete que enviarmos às civilizações distantes levem uma temporada completa de "A Casa". Nada explica mais o ser humano do que isso.

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