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    CRÍTICA

    Sem piruetas, drama nacional nos leva a rara experiência de fruição

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    29/06/2017 01h00

    Divulgação
    O personagem Uriel, interpretado por Ney Latorraca, em 'Introdução à Música do Sangue
    O personagem Uriel, interpretado por Ney Latorraca, em 'Introdução à Música do Sangue'

    INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE (bom)
    DIREÇÃO Luiz Carlos Lacerda
    ELENCO Ney Latorraca, Bete Mendes, Greta Antoine
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 16 anos
    Veja salas e horários de exibição

    *

    O diretor carioca Luiz Carlos Lacerda se tornou mais conhecido do público cinéfilo com "For All - O Trampolim da Vitória" (1997), um filme de tom descontraído sobre a relação entre Brasil e EUA durante a Segunda Guerra.

    No seu novo longa-metragem, "Introdução à Música do Sangue", Lacerda recorre a um registro bem distante daquele. Apresenta agora um drama circunspecto.

    Assim, ele retoma o gênero de sua estreia na direção, com "Mãos Vazias" (1971). Como neste seu primeiro filme, é o romancista e poeta mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) quem inspira Lacerda.

    Um argumento inacabado de Cardoso serviu como base para o roteiro assinado pelo próprio diretor.

    "Introdução" retrata a vida de um casal na faixa dos 60 anos que mora em um sítio na região da Zona da Mata, no interior de Minas. Uriel (Ney Latorraca) planta e vende verduras, e Ernestina (Bete Mendes) ganha algum dinheiro com costuras.

    Tanto sossego só é abalado quando Maria Isabel (Greta Antoine), a jovem que vive com eles no sítio, se apaixona pelo peão de uma fazenda vizinha, interpretado por Armando Babaioff.

    É notável como Lacerda e o diretor de fotografia, Alisson Prodlik, ilustram a descoberta da sexualidade em meio aos movimentos e às cores da natureza. Contribui para essa atmosfera de encantamento a música de David Tygel, que parte de temas criados por Tom Jobim.

    Lacerda tem a sensatez de evitar piruetas técnicas para supostamente valorizar o filme. Os enquadramentos são precisos, o que nos leva a rara experiência de fruição.

    A câmera se aproxima sem pressa de cada um dos protagonistas. Mas, nesse aspecto, há um descompasso. Os personagens femininos são capazes de nos intrigar do começo ao fim do filme, uma qualidade que os masculinos nem sempre alcançam.

    Não parece existir aí falha dos atores, e sim uma deficiência do roteiro.

    Esse desequilíbrio prejudica a produção, mas não lhe tira o valor. Graças ao requinte estético de Lacerda, "Introdução" é um filme que merece a contemplação.

    Assista ao trailer de "Introdução à Música do Sangue"

    Assista ao trailer de "Introdução à Música do Sangue"

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