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    CRÍTICA

    Constrangedor, suspense 'Mar Inquieto' mais parece comédia

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    29/06/2017 01h00

    Divulgação
    A atriz Rita Guedes em cena do filme 'Mar Inquieto
    A atriz Rita Guedes em cena do filme 'Mar Inquieto'

    MAR INQUIETO (ruim)
    DIREÇÃO Fernando Mantelli
    ELENCO Rita Guedes, Daniel Bastreghi, Eri Johnson
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 16 anos
    Veja salas e horários de exibição

    *

    "Mar Inquieto", que estreia nesta quinta (29), se vende como um filme de suspense. Mas o espectador pode querer recalibrar suas expectativas antes de ir ao cinema. Esse é um longa que mira no thriller e acerta na comédia.

    Rita Guedes protagoniza a empreitada. É Anita, uma espécie de Christiane F. crescida que largou as drogas ainda jovem e hoje tenta ter uma vida média de classe média num balneário no sul do país.

    Mas Anita é atormentada por terrores abstratos, como as manifestações que ouve do mar desde criança, e por outros, mais reais. Seu marido é um pústula. Anita encontra apoio e cumplicidade (para o bem e para o mal) na vizinha enquanto sua realidade passa por um maremoto.

    Há assassinatos, mortos que não estão bem mortos e sussurros sobrenaturais –dizer mais do que isso seria incorrer em spoiler.

    Mas o que mais abunda nesse filme é a vergonha alheia. É difícil conceber situações mais chochas e personagens mais clichês. Duvida? O marido alcoólatra, uma caricatura em 3D, chega em casa distribuindo sopapos depois de passar umas horas dormindo bêbado no bar.

    Mulher pergunta para marido: "Que bicho te mordeu?". Marido responde, com a voz empostada de um Dudu Camargo: "O bicho do tédio da infelicidade. O bicho do casamento com uma esposa estéril, sequelada de drogas".

    O roteiro é mais didático que o Telecurso 2000. O que poderia ser a guerra fria dentro de uma relação, com um amor permeado de medo e abuso, acaba soando como dramalhão deslavado.

    Eri Johnson, quem diria, é o melhor ator do filme. Um jato de naturalidade num mundo de caras e bocas. Interpreta um tipo nervoso que serve bebidas na biboca local, e faz as vezes de emissário da desgraça.

    As cenas com tóxicos comporiam uma excelente campanha contra o uso de drogas. Constrangedoras, parecem um esquete, e não um filme de verdade. Um "Trainspotting" de botequim.

    Mas nem tudo são drogas em "Mar Inquieto". O longa mostra esmero técnico e tem apelo estético. A começar pelas locações interessantes, praias longas e gélidas em que os personagens pedalam e dirigem.

    Uma cena surreal de delírio da protagonista também é poética e perturbadora na mesma medida. E a maré dos elogios só sobe até aí.

    "Mar Inquieto" deixa o espectador inquieto –para poder levantar e sair do cinema.

    Assista ao trailer de "Mar Inquieto"

    Assista ao trailer de "Mar Inquieto"

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