• Ilustrada

    Sunday, 05-May-2024 16:45:40 -03

    CRÍTICA

    Grandeza de 'Soundtrack' deve muito à atuação de Selton Mello

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    05/07/2017 03h00

    Divulgação
    Selton Mello em cena do filme 'Soundtrack', da dupla 300ml
    Selton Mello em cena do filme 'Soundtrack', dirigido pela dupla 300ml

    SOUNDTRACK (ótimo)
    DIREÇÃO 300ml
    ELENCO Selton Mello, Seu Jorge, Ralph Ineson
    PRODUÇÃO Brasil, 2017, 14 anos
    Veja salas e horários de exibição.

    *

    As primeiras cenas de "Soundtrack" mostram o fotógrafo Cris (Selton Mello) caminhando pelos corredores de um navio da Marinha. Mais do que curioso, ele parece ressabiado com o lugar estranho.

    Também somos nós, os espectadores, que percebemos esse filme como um "lugar estranho", em sentidos múltiplos. "Soundtrack" acompanha um fotógrafo que viaja a uma estação polar para tirar "selfies" inspiradas em músicas pré-selecionadas.

    Por que a decisão de Cris pelo isolamento? Que arte é essa? E, principalmente, de que vale a arte diante da eficácia da ciência? O fotógrafo chega ao local inóspito e leva na bagagem indagações que geram incômodo nos cientistas que o recebem.

    Inseguro, Cris pouco sabe de si, alheamento que o perturba –talvez por isso tenha decidido fugir de tudo o que lhe dizia respeito. Por outro lado, sua arte –banal, à primeira vista– se revela contundente, poderosa.

    No caso do fotógrafo, não há vida fora da arte, algo inconcebível para um cientista como o inglês Mark (Ralph Ineson), que estuda o aquecimento global. Para Mark, as respostas que a humanidade busca estão na natureza, e só nela.

    Como no Ártico, em que um passo mal calculado põe tudo a perder, a dupla de diretores de codinome 300ml teria afundado o filme sem alguns cuidados, a começar pelo elenco.

    No papel do pesquisador Cao, Seu Jorge reitera o carisma revelado em "Cidade de Deus" (2002), e Ineson, da série "Game of Thrones", exibe uma fleuma irresistível (o humor, aliás, não deixa que o longa soe pretensioso ou piegas, males que costumam acompanhar dramas existenciais).

    Mas se "Soundtrack" é um grande filme, muito se deve a Selton. Os mistérios de Cris são explorados por ele em uma das melhores interpretações de sua carreira.

    Há ainda a excelência técnica. Quando a política nos devolve à condição de vira-lata do mundo, não deixa de ser um alento notar que a tecnologia leva o cinema brasileiro a criar, com requinte, novas paisagens.

    Graças à ciência, a arte respira em "Soundtrack".

    Trailer do filme "Soundtrack"

    Trailer do filme "Soundtrack"

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024