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    Após 20 anos, autora indiana Arundhati Roy volta à ficção

    DE SÃO PAULO

    07/07/2017 02h00

    Divulgação
    A escritora indiana Arundhati Roy
    A escritora indiana Arundhati Roy

    Começamos com alguém morando em um cemitério "como uma árvore". Ela despede-se dos corvos e dá boas-vindas aos morcegos e vice-versa. Vê os abutres nos galhos e sente o aperto de suas garras "como a dor em um membro amputado".

    Assim começa "O Ministério da Felicidade Absoluta", novo romance da autora indiana Arundhati Roy, que chega agora às livrarias.

    Foi uma longa espera. Roy venceu o Man Booker Prize, um dos principais prêmios literários do mundo, com

    "O Deus das Pequenas Coisas", foi comparada a Gabriel García Márquez e William Faulkner -e nunca mais publicou ficção. Passaram-se 20 anos desde o troféu.

    "O romance não é um produto, um dever que preciso cumprir a cada dois anos.

    O romance é [o gênero] mais perto da oração que eu conheço. Não escreveria se me sentisse pressionada", diz à Folha, por telefone.

    Não que ela estivesse sofrendo da síndrome de Bartleby, aquela que faz os autores pararem de escrever depois do sucesso. Roy esteve ocupada com a política, publicando não ficção.

    Tornou-se defensora da independência da Caxemira e opositora do nacionalismo hindu. Marchou com maoístas pelas florestas indianas. Opôs-se a Israel e à guerra americana no Afeganistão.

    É claro que essa política toda não ficou para trás, e basta ver a dedicatória do novo romance: "Aos inconsoláveis". "O pior que um romancista pode fazer é escrever um manifesto fingindo ser um romance. Mas não acredito que haja um romance não político. Um autor pode não ver os conflitos a seu redor, mas também é político cortá-los da narrativa", diz ela.

    "É importante entender tais assuntos profundamente, mas sem sobrecarregar o livro. Os personagens precisam ter sua individualidade, sem ser símbolos de outra coisa."

    O personagem no cemitério, que o leitor vai acompanhar, é Anjum, mulher de uma casta de transexuais indianos. O outro núcleo traz Tilo, arquiteta e ativista, com os homens que se apaixonam por ela. Além deles, há uma constelação de personagens.

    CASTAS

    O Ministério Da Felicidade Absoluta
    Arundhati Roy
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    Com a história, a autora explora os conflitos políticos e sociais da Índia. Pelos personagens, mostra que pessoal e político estão relacionados.

    Ao tratar também de questões identitárias, Roy lembra não estar publicando um livro de ocasião, só porque o tema anda em alta.

    "Identidade não é novidade aqui na Índia. A sociedade é dividida em milhares de castas. Mesmo a transexualidade não é uma questão nova aqui, ela existe desde antes da chegada dos ingleses.

    Mas por que um romance e não outro ensaio político?

    "Nossa percepção do tempo mudou, tudo acontece ao mesmo tempo. Não poderia usar uma forma comum. Como lidar com a loucura que há aqui?"

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